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Emitamos, sem medo, a nossa opinião. Como a imparcialidade é um mito, confessemos as nossas PARCIALIDADES.
Hoje, mais do que nunca, faz sentido usar a redundância "amigo verdadeiro". Se antes das redes sociais dominarem, já vinham à tona as hipocrisias, agora são uma desgraça. Usa-se a abusa-se da palavra amigo, no facebook. As outras redes ficaram-se por "seguidores". E fizeram muito bem.
Quando uma velha amiga tua, no café, em animada conversa sobre cinema, lança a bomba: " O George Clooney ? É meu amigo." Tu só podes ficar baralhado. Aconteceu-me a mim. " É teu amigo? O Clooney?". " É. No facebook!", diz ela. "Ah!!", digo eu.
Nesta vida, a outra desconheço, a improbabilidade daqueles dois serem amigos será de quase cem por cento. Mas o milagre da rede social permite o abuso de uma expressão sentimental, merecedora de respeito - amigo.
Ter amigos é, a par da saúde, das melhores coisas que o ser humano necessita. De uma forma geral, perdemo-los ao longo da vida. Chegamos a uma fase em que os tais "verdadeiros", são bons, mas são poucos. Ao contrário, na rede social, basta carregar numa tecla e já está - novo amigo.
Mas, como todas as medalhas, tem o reverso. No facebook, à medida que cresce o número de amigos virtuais, vamos perdendo alguns que, até aí, foram reais. E isto é dramático. Motivos tão banais podem conduzir a um corte de relações.
Conheço casos em que amigos durante mais de 20 anos, conviveram, passearam, debateram sobre tudo, até porque eram de partidos e clubes diferentes, cessaram relações no facebook. Por causa dos comentários. Seguramente, se a conversa fosse presencial, tudo continuaria em paz, mas no facebook....Essa máquina produtora de mal entendidos... Conclusão, a amizade não era assim tão sólida; se fosse, não caía tão facilmente. Ou terá o facebook uma influência psicológica forte que não permite sanar conflitos?
O novo paradigma das nossas vidas . Temos de aceitá-lo. Mas confesso, sem laivos de saudosismo mórbido, a minha preferência por um tempo em que o convívio era feito em cafés, na rua, no trabalho, na escola ou na universidade. Cada um fazia a triagem. E quem era, era o que mostrava, o que dizia e o que sentia. Quando nascia amizade, era "verdadeira".
Agora, a rede dá e a rede tira. No balanço do deve e do haver, acho que chegamos a falência técnica. Lamentável! Um amigo "verdadeiro" sustenta a nossa vida emocional. E banalizar este sentimento é um atentado à segurança do ser humano.
Shereen é mais uma jornalista abatida por militares. De nacionalidade palestiniana e americana, acompanhava uma operação do exército israelita no campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia ocupada. Tratava-se de mais uma reportagem, entre as muitas que fazia, para o canal televisivo Al Jazeera. A morte foi causada por um tiro na cabeça. Além de ser muito conhecida quer por israelitas quer por palestinianos, usava capacete bem identificado e um colete "Press". As suas armas eram os olhos, ouvidos, bloco-notas, câmara de filmar e microfone. Perigosíssimas, pois, para os ditadores, expansionistas e colonizadores. Pessoas decentes, mesmo em guerra ( não era este o caso!), respeitam os jornalistas. Quando não querem que avancem, dizem. E os repórteres, habitualmente, respeitam.
A pressa do Primeiro Ministro de Israel vir a público afirmar que deveria ter sido atingida por fogo palestiniano, revela o carácter da figura. Político e pessoal. Sem avançar com qualquer tipo de investigação, o mais avisado seria aguardar e falar posteriormente. Para quê tanta rapidez? Dá que pensar.
Segundo a France-Press, não havia nas redondezas palestinianos armados. E os tiros mantiveram-se, já a jornalista estava por terra, durante mais algum tempo, disse a agência. Provavelmente, eram para "varrer" todos os que acompanhavam Shereen. Não podemos esquecer que a opinião pública da Palestina chamava-lhe " A Nossa Voz".
Os políticos e militares que não têm a consciência tranquila ou nem sequer consciência, apavoram-se com a verdade. O desaparecimento do mensageiro, apazigua-os. Num mundo em que o totalitarismo avança a todo o vapor, Putin vai deixando raízes em locais onde menos se espera, a Humanidade desumaniza-se rapidamente. E ninguém está seguro. Nem os jornalistas nem as populações em geral; quando se coloca, ainda, a dúvida se disparar deliberadamente contra cidadãos desarmados é ou não crime de guerra!! Vamos no mau caminho.
O avanço tecnológico está a ser inversamente proporcional ao humanismo. A liberdade de expressão, indispensável à democracia, é a primeira a ser destruída. Assim foi em todas as ditaduras. Tudo preparado, portanto, para a reescrição da História e a destruição da verdade...à lei da bala. Crápulas assassinos.
(Fotos: Al Jazeera e Sapo24)
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