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A Festa dos Compadres

por Jorge Santos, em 13.05.22

  Nunca gostei de maiorias absolutas. Nem nas instituições que tive o prazer de liderar! Este absoluto vício da democracia pluralista vem comigo quase desde o berço. Mesmo não gostando, aceito. Mas sem resignação. Afirmo sempre que é a democracia o menos mau dos regimes, mas que fica inquinada com maiorias abolutas. Estas têm cheiro e sabor, lembram-me outros tempos, antes e depois de Abril. E o aroma é enjoativo, traz a reminiscência da ditadura, do amiguismo e da falta de equidade.

  Apesar de não gostar, em democracia já levamos com três. A de Cavaco, de onde surgiram alguns dos piores corruptos conhecidos até hoje. A de Sócrates, de triste memória e que nem vale a pena qualificar e, agora, a de Costa que quer fugir de Sócrates como o diabo da cruz. Não confio na gente que ladeou Sócrates! Puro convicção! Nada de científico. Por mim, afastava-me deles.

  Foram maus momentos para a sociedade portuguesa, a vida em maiorias absolutas. Há muita "fome" de poder e alguma de vingança. E há cargos apelativos e bem pagos para os amigos do PS, independentemente da competência e mérito.

 Se com maiorias relativas já passamos as passas do Algarve para aprovarmos um projecto ou concorrermos a determinados programas, em maioria aboluta foi sempre pior. Sendo absoluto o poder, aumenta exponencialmente o perigo de transgressão.

 Não gosto e considero perigoso. Tomando em consideração o que já passámos com tal amontoado de deputados do mesmo partido.

 É mais fácil, com certeza, "A Festa dos Compadres"...

  E estas coisas não são de hoje. Visitemos "As Farpas", de Ramalho Ortigão, escritas em 1889. E prestemos especial atenção ao Tomo XI:

"...Ajoelhemo-nos, reverentes, e ergamos o nosso pensamento ao Altíssimo! Logo que o povo português chegue a ter  a compreensão nítida e perfeita do seu actual destino e da sua presente situação na história , a festa dos compadres, hoje obscura, será a primeira das nossas festas nacionais.
  Há muito tempo que o reino deixou, de facto, de pertencer aos frades, deixou de pertencer à Virgem, deixou de pertencer ao rei, e deixou de pertencer à Carta. (...) O reino, agora, a quem pertence é unicamente ao compadre."

 

Farpas.jpg

 

 

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publicado às 19:07

Tapar o sol com a peneira

por Jorge Santos, em 04.05.18

Tolerância zero relativamente à corrupção, diz Ana Gomes a um canal televisivo. Bem prega Frei Tomás...

Não acredito. Nada tenho contra (ou a favor ) de Ana Gomes, mas não acredito que a maioria, sim, a maioria, dos que hoje estão na política, desde as autarquias até aos corredores do alto poder, estejam por ideologia, convicção e dispostos a abdicar de benesses. E é isso que cria a corrupção.

Não acredito nos políticos, de uma forma geral. Sei que os há sérios, leais, competentes e com interesses comunitários. Mas são poucos, muito poucos. E alguns deles, fartos de remar contra a maré, afastam-se, outros, por serem um "embaraço", são afastadas e, finalmente, restam aqueles que optam por entrar no jogo, esquecer ideologias e integrarem o rol imenso dos trafulhas.

Veja-se a "habilidade" das moradas, usadas por alguns deputados  para somarem mais mil euritos ao salário...

E notemos também a altura em que o PS decidiu "pôr a boca no trombone" e desdizer o que disse há anos, a propósito de Sócrates. Agora, porquê? Por que não daqui por seis meses ou um ano? Percebe-se, não é verdade? Daqui a um ano há eleições e é preciso tapar todo este incómodo. Para quem não se deixa enganar, estão a tapar o "sol com a peneira"; mais uma vez, a fazerem de nós parvos. Mas há já quem não embarque nessa estação. E quem embarque sempre, infelizmente...

Pois é, o Carlos César, o Galamba,o Santos Silva, o Costa, quais paladinos da transparência, vão dando uma no cravo outra na ferradura. Falsos, falsos, falsos. Pelo poder até vendem as mães!

De Sócrates já nem vale a pena falar. De Pinho, um burgesso oportunista. São socialistas? Não! São do PS, que é muito diferente. E podiam ser de outro partido qualquer; seriam do que lhe permitisse ter o poder e o dinheiro E usálos a seu bel-prazer. Teriam os PS´s o mesmo discurso se Sócrates e Pinho fossem de outro partido? É claro que não...mas os socialistas teriam.

E, caro Alegre, bom poeta, deixe abrir a Caixa de Pandora. Deixe sair tudo, tudo, tudo. Importante é a transparência e a defesa dos interesses do país. Os ladrões, vigaristas, oportunistas, tenham a profissão que tiverem e ostentem na lapela o emblema político que ostentarem, devem ser investigados, julgados e, se culpados, punidos.O Estado de Direito tem defuncionar!

A mim, a política não me seduz. E creio que os portugueses estão cada vez mais afastados. Propositadamente, os partidos políticos engendram maneira de manter os cidadãos anestesiados e afastados. O importante, para eles, é que alguns vão votar. Alguns. O que é suficiente para lhes garantir a manutenção do emprego!

Não, não sou contra uma sociedade sem partidos! Sou pela democracia e sei da importância que essas organizações têm para a garantir. O problema é que os de Portugal ( e não só!), partidos, claro, tornaram-se máquinas produtoras de corruptos. Essa avaria nos "filtros" tornam-nos perigosos. 

Não é por acaso que essas gigantescas máquinas montaram um sistema que não permite às organizações independentes de cidadãos concorrer às legislativas. Só o podem fazer partidos políticos. E não é fácil recolher cerca de 10 mil assinaturas para criar um partido! E para quê? Pergunto eu? Só sob essa capa é que os cidadãos são capazes de unir-se e elaborar projectos?

A Constituição deveria permitir e potencializar Cidadania. Essencial que fossem os cidadãos livres das amarras partidárias a gerir o  país. E com mandatos de 6 anos ( no máximo), e pronto. A seguir viriam outros.

Portugal não precisa de políticos, Portugal precisa de Cidadãos.

Os governos não precisam de políticos de carreira, mas de portugueses livres com projectos bem delineados para desenvolver. 

E já se pode concluir, se dúvidas houvesse!, que os partidos e os deputados não são livres. Estão presos a poderes económicos ferozes. A teias de interesses com tiques mafiosos. Esta teia só pode ser destruída por Cidadãos livres, sérios, competentes e leais. 

E apetece-me perguntar: os que comeram à mesa com Sócrates e Pinho ( vejam quem eram eles), não sabiam das maroscas? Duvido. E se fossem sérios, afastavam-se e denunciavam. 

Não o fizeram. São cúmplices. Ponto.

 

2018-05-04.png

 

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publicado às 21:39


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