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Emitamos, sem medo, a nossa opinião. Como a imparcialidade é um mito, confessemos as nossas PARCIALIDADES.
Percorrendo as redes sociais, desde logo um privilégio das sociedades democráticas, encontro mais do que gostaria, vitupérios ao "25 de Abril". Um dos mais comuns : " "Não festejo o 25 de Abril!". Sendo um direito que assiste a qualquer pessoa, num país livre, festejar o que bem entender, percebe-se o acinte da frase. Provocar a "esquerdalha" , designação pejorativa, usada pelas gentes de direita, quando referem a de esquerda. Até há alguns meses, essa insistência não me aquecia nem arrefecia. Agora, preocupa-me. E não é o facto de não festejarem. É o local onde vão pôr a cruzinha no dia das eleições.
O "25 de Abril" tem dois aspectos essenciais; por ignorância ou má fé, são "esquecidos" pelos "não festejadores" : podermos dizer e escrever o que pensamos, nem que seja contra o "status quo" e vermos o fim da Guerra Colonial, para onde mandavam os jovens portugueses. Matar e morrer. Só isto chegava para o "25 de Abril" ser uma das datas mais importantes da História de Portugal.
O dia de que falo, é isso mesmo, o dia e o seu significado global, nada tem a ver com "PREC", comunistas, fascistas, ELP, MDLP, nada. Fechou um ciclo. Uma ditadura já a cair de podre, com polícia política infiltrada em tudo o que mexesse, livros proibidos, canções proibidas, censura aos jornais e aos espectáculos, presos políticos, mulheres impedidas de votar, de viajar sozinhas, eleições falseadas. A par, verdadeira fome, nomeadamente nos arrabaldes das grandes cidades e parcos apoios para quem deles necessitasse.E eram muitos. A já referida guerra afectava sobretudo os filhos de gente com menos recursos, sem "cunhas" para evitar esse martírio.
Que para os jovens tudo isto seja música celestial, entende-se. Para quem ainda passou pela ditadura, enfim, transcende a minha compreensão. E o pior é quando a ignorância tolda as mentes. E todos sabemos que Salazar morreu pobre! Evitou que entrássemos na 2ª Guerra Mundial. Mandou construir pontes, estradas, mercados, feiras. Claro que sim. Como qualquer estadista. Todos esses elogios ao ditador, palavra que, na época, não era ofensiva, pois Ditadura Nacional era assumida com orgulho, embora na Europa já houvesse poucas, são comprovados pela História. E ninguém os nega. Ninguém com esclarecimento pode negar.
O problema da ignorância é outro. Dar como verdadeiro o que a imprensa da época publicava ou não publicava. Além dos dramas socias que eram escondidos, tudo o que pudesse beliscar a imagem de um regime que se queria mostrar perfeito era enclausurado numa arca e a chave atirada ao mar. Será a pedofilia um mal de hoje? E a pederastia? E as violações? E os assédios? E o enriquecimento ilícito dos mais poderosos? Os suicídios? A violência doméstica? A discriminação racial e sexual? Os assaltos? Os furtos? A exploração por parte de grandes empresas? Os impostos? Era perfeita a colocação de professores? Eram respeitadas as carreiras? Os salários eram magníficos? Os bailes da gravatinha, onde os governantes se divertiam com "virgens" , foram inventados?
O Estado Novo fechava a sociedade a tudo. Até ao resto do mundo. Nada era divulgado para dar ideia de paz, progresso, bem estar, ordem. Era , sim, uma farsa bem urdida pelos governantes e polícia. Quem tiver assim muitas dúvidas, dirija-se à Torre do Tombo e aos arquivos distritais, onde encontra documentos diversos mostrando quão podre era o poderoso Estado Novo.
E dirão os críticos, mas hoje, funciona tudo bem? Não, respondo eu. Funciona mal. Mas a culpa não é do dia "25 de Abril", nem dos revolucionários do "período quente" e que viviam no mundo utópico das ideologias comunistas. Desses já há tão poucos! Mesmo nos dois partidos onde ainda podem encontrar-se, já são uma raridade. A culpa é dos "filhos" e "netos" destes, que, vivendo sempre em liberdade, aproveitaram as fragilidades da democracia para darem cabo disto tudo e encherem-se de privilégios. O liberalismo económico e o capitalismo amancebaram-se para controlar. E se houve um 25 de Novembro, ainda bem que houve!, foi graças à abertura política do 25 de Abril. Só tivemos políticos como Sá Carneiro ou Mário Soares e militares como Ramalho Eanes, porque o 25 de Abril os trouxe. O 25 de Novembro não é mais do que o fim lógico do desvario revolucionário. Porque nenhum país conseguiria subsistir com greves todos os dias, ocupações, perseguições, bombas, desordem, medos vários. Até naqueles em que o comunismo ficou a governar, acabou com a desordem instaurando a "democrática" ditadura do proletariado. Mas os verdadeiros democratas portugueses não quiseram isso. Não deixaram. Lutaram contra. E para os defensores acérrimos de uma sociedade social e livre, do dia 25 de Abril passou-se para o dia 25 de Novembro. O resto foi barulho. E algum lixo. Lamentavelmente, com algumas mortes.
Eu acredito na democracia. Em grande parte dos que hoje se auto-intitulam democratas, não! Porque estes, mais conservadores ou mais progressistas, têm gerido mal o país. Aliás, criticam-se mutuamente, mas quando a roda eleitoral vira, não alteram o que antes açoitaram tão asperamente. Mas isto nada tem a ver com "abris ou maios". Tem a ver com homens e mulheres oportunistas, nas diferentes áreas, sem escrúpulos que, propositadamente, mantém uma Justiça injusta e amorfa, com vistas míopes.
Por fim, o 25 de Abril trouxe-nos a liberdade de dizer o que está mal, sem irmos presos. Libertou-nos do sufoco absurdo de uma ditadura. Não me identifico com os festejos engravatados e pomposos, entre elites e discursos de circunstância. Não! Até esses esqueceram muito depressa que o "25 de Abril" não se fez para ser lembrado assim. É uma efeméride popular, deve festejar-se na rua, entre iguais.
" Em cada esquina um amigo, em cada rosto igualdade..." . Viva a democracia! Viva a Liberdade! Viva o 25 de Abril!
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