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Emitamos, sem medo, a nossa opinião. Como a imparcialidade é um mito, confessemos as nossas PARCIALIDADES.
Foto: Paulo Cunha/EPA
Estávamos, todos, fartos de confinamentos e restrições. Até os defensores de uma democracia musculada, aqueles que querem pôr filtros em certos tipos de liberdades, estavam fartos. E vivívamos em ditadura consentida (utlizando uma palavra, hoje, muito grata e essencial) e temporária. Não cabe nesta prosa discutir se tais restrições motivadas pela COVID eram ou não necessárias. Isso é argumento para outro filme. Por agora, concentremo-nos na liberdade que perdemos durante dois anos.
É bom perceber esta faceta do povo português:o gosto pela liberdade! E a economia agradece, pois só um povo livre consome de modo satisfatório em todas as áreas. Uma ditadura de mais de 40 anos atrofiou Portugal e ainda têm "saudosistas" até dizer chega; os mais jovens, não surpreende, pois só sabem viver em liberdade e nem imaginam viver sem ela (tiveram neste confinamento um pequeníssimo exemplo, mas assutador); incompreensível, os mais velhos; viveram ainda no período do Estado Novo. Das duas uma, ou eram privilegiados e pretendiam continuar a sê-lo, mesmo sabendo que os seus semelhantes viviam mal ou, então, são puros masoquistas! Talvez meros provocadores, afinal. Independentemente das circunstâncias, a verdade é simples de definir : a esmagadora maioria do povo já não passa sem a liberdade social, cultural e política. A económica é coisa ideológica e fica para outro dia.
Não podemos esquecer as festas populares, as pregrinações a Fátima, Santiago e outras, a actividade desportiva, o convívio em bares e cafés, o rally de Portugal, os concertos de verão, a praia, as discotecas, as viagens turísticas e de negócios, o fecho de lojas e escolas e a traumatizante permanência em casa. Com limitações parecidas, quiçá mais duras, há povos que aguentam, estóicos, sem reclamação possível. E com a agravante de um incumprimento dar cadeia. E sempre caladinhos. Refiro-me à China, à Coreia do Norte, à Venezuela, à Rússia e a alguns países afro-asiáticos. O povo que não tem liberdade no dia-a-dia não sofre tanto. Estão habituado a restrições ditatoriais e prisões por coisas tão simples como ler um livro... .
Mas a gente das grandes democracias, sofreu, protestou, transgrediu.Lutou! Sentindo a privação de liberdades tão básicas, auto-intitulou-se prisioneira, numa prisão com janelas sem grades.
Esta forma de sacudir a opressão, a mim, um adepto incondicional da liberdade político-social, encheu-me de esperança. De sofrimento, sim, mas de esperança também.
O povo livre não quer deixar de o ser. A maioria, claro. E se, às vezes, em actos eleitorais prega-nos uns sustozitos, no fundo, é para abanar o sistema e mostrar aos políticos a sua força. Pois não o vejo capaz de, deliberadamente, entregar o ouro ao bandido e colocar a cabeça sob o jugo de um ditadorzeco qualquer.
O 25 de Abril trouxe-nos a liberdade. E nenhum de nós consegue passar sem ela. Seja em que sector for. Porque é uma necessidade social inegociável. Imprescindível. Mas esgotável, cuidado.
Foto: WRC
Hoje é um dos dias mais importantes para o povo português. Concordando ou discordado, é uma data que não deixa ninguém indiferente.
Foi um dia feliz para mim. Por muitas e variadas razões, não importa . O que me surpreende é ler textos, cujos autores, referindo-se a Abril, perguntam, "festejar o quê?"
Se, quem escreve, pertencia à elite do Estado Novo ( políticos, juízes, polícias, guardas, pides, "bufos", empresários comprometidos, ideólogos do fascismo, etc.), entendo na perfeição. Aos que vivam nas ex-colónias, também percebo, se for o desabafo do trauma que qualquer pessoa sofre quando se vê no meio de uma guerra e tem de abandonar a sua casa.
Todos os outros, não compreendo. Preferirão as pessoas viver em ditadura? Com censura, presos políticos, polícia política, sem direitos sociais e liberdades básicas restringidas? Se não querem, parece. Mas, provavelmente, preferem.
Para mim, o simples facto de poder estar aqui a expor o que penso, já é motivo para festejar. Sim, porque em 24 de Abril, no Liceu, os estudantes progressistas ( onde me inseria) lutavam para que a Associação de Estudantes fosse eleita livremente por todos os aluno. E não nomeada pelo Reitor, para a manipular a seu bel-prazer. O que nos colocava debaixo de olho dos poderes opressores. Ser livre é motivo para festejar. Principalmente numa época em que a liberdade é posta em causa todos os dias por forças populistas de esquerda e direita.
A democracia tem custos e não é fácil preservá-la. É frágil e foi criando inimigos devido à quantidade de políticos que a usam em proveito próprio e que urge erradicar.
Mas, até hoje, não há melhor para quem sente a liberdade tão importante como o ar para respirar.
Viva o 25 de Abril!
( Crédito das fotos: Alfredo Cunha, um dos mais icónicos fotojornalistas que acompanharam essa madrugada determinante para o fim da ditadura)
Fico sempre atónito quando ouço e vejo mulheres e homens jovens defenderem posições pouco compatíveis com a idade biológica e desfasadas dos tempos e das realidades. A líder parlamentar do PCP é um destes casos. Ao vê-la ler o discurso sobre a ausência dos deputados comunistas quando Zelensky intervier no Parlamento, ao vê-la, digo bem, fico com mais dúvidas do que certezas.
Não consigo acreditar que a deputada crê naquilo que refere. A sua imagem revela mal-estar, intranquilidade, pouca convicção. E o caso não é para menos.
Faz-me confusão uma mulher jovem, culta e esclarecida embarcar na propaganda estalinista que o PCP teima em não largar. Pelo menos, desde a invasão da Checoslováquia até hoje, a Rússia (quer sob a forma de URSS ou Federação Russa) é uma das principais potências a intervir negativamente em terra alheia.
Há nazis na Ucrânia? Haverá, com certeza . Como os há cá, na Hungria, na Polónia, no Brasil, na América e...na Rússia. Infelizmente, em todo o mundo. Não é com um ataque em massa contra pessoas e edifícios, reduzindo tudo a cinzas, que vai anular esses movimentos daninhos e anacrónicos.
O Esquadrão Azov é uma força paramilitar nociva? Acredito que seja. Como os esquadrões de mercenários tchechenos, Wagner ou outros a actuar na Ucrânia e apoiados pela Rússia. O problema do Azov é que defende a Ucrânia e isso Putin não perdoa. Está lá a Rússia preocupada com os 60 ucranianos que o Azov assassinou! Matar civis é lá coisa que incomode Putin! Nota-se!
Nas lideranças mais profundas do PCP, onde abunda gente mais velha, dos sindicatos, por exemplo, não surpreende a construção desta retórica reaccionária, profundamente sectária, ainda saudosa dos tempos áureos da União Soviética. Gente que acredita ter sido uma tragédia a queda do império. Desses não surpreende o discurso estalinista. Já nos habituou e nem ligamos. Mas de gente com pouco mais de 30 anos! Inimaginável! Fosse Jerónimo de Sousa a ler "aquilo" e encarava com toda a normalidade. Mas uma jovem?!
Esta invasão da Ucrânia fez com que a máscara democrática do PCP caísse. Afinal, não repudiar o expansionismo e imperialismo de uma nação capitalista, autocrática e fascista como é a Rússia de Putin, mostra com clareza o que seria de um país governado pelo PCP. Coitado do Povo!
Como é que um partido orgulhoso de um passado antifascista, foi realmente, não se sente incomodada por estar a promover a propaganda de um pais, cujo ministro da educação afirma (fonte: CNN inernacional) a criação de uma disciplina escolar denominada Educação Patriótica, de frequência obrigatória a partir dos 7 anos. Cujo objectivo fundamental é impedir o pensamento de que a Rússia alguma vez tratou mal as outras nações. No fundo, reescrever a História, tão ao gosto dos ditadores. São atitudes destas, mais uma de índole totalitária, que o PCP branqueia. Ai se fosse na América!
Os jovens progressistas só podem censurar países que se opõem à liberdade. Às liberdades políticas e sociais. E opor-se com veemência a qualquer tentativa expansionista. Invadir uma nação independente devia ser de imadiato condenado por qualquer pessoa progressista. Principalmente, os jovens, que, na sua maioria, já não se reveem nas ideologias de outro tempo.
O PCP faz exactamente o contrário. Ataca e condena tudo o que vem da União Europeia ou dos Estados Unidos. Mesmo num momento trágico para o povo ucraniano, não vacila na pose estalinista. Mas teme criticar os fascista da Rússia, da Coreia do Norte, da Venezuela, ou da China. Pactua com o golpe chinês e russo para dominar as sociedades com uma ditadura férrrea. O trajecto já foi iniciado por Putin.
Não acredito que a deputada Paula Santos acredite no discurso que lhe entregaram. Não é possível uma mulher jovem tomar aquela posição.
Tal como não acredito que a maioria dos jovens do PCP, maioria, não todos, embarque nas patranhas de Putin e que o partido tão afanosamente difunde.
Só para esclarecer, não sou anticomunista primário. Sou democrata, defendo o pluripartidarismo. Sou progressista. E tenho a esperança de que os jovens sejam capazes de mudar, para melhor, a sociedade, já que a minha geração fez um trabalho censurável. E, por isso, lamento profundamente que a deputada Paula Santos, sendo jovem, leia um discurso de velha utópica ocidental do tempo da Cortina de Ferro.
Percorrendo as redes sociais, desde logo um privilégio das sociedades democráticas, encontro mais do que gostaria, vitupérios ao "25 de Abril". Um dos mais comuns : " "Não festejo o 25 de Abril!". Sendo um direito que assiste a qualquer pessoa, num país livre, festejar o que bem entender, percebe-se o acinte da frase. Provocar a "esquerdalha" , designação pejorativa, usada pelas gentes de direita, quando referem a de esquerda. Até há alguns meses, essa insistência não me aquecia nem arrefecia. Agora, preocupa-me. E não é o facto de não festejarem. É o local onde vão pôr a cruzinha no dia das eleições.
O "25 de Abril" tem dois aspectos essenciais; por ignorância ou má fé, são "esquecidos" pelos "não festejadores" : podermos dizer e escrever o que pensamos, nem que seja contra o "status quo" e vermos o fim da Guerra Colonial, para onde mandavam os jovens portugueses. Matar e morrer. Só isto chegava para o "25 de Abril" ser uma das datas mais importantes da História de Portugal.
O dia de que falo, é isso mesmo, o dia e o seu significado global, nada tem a ver com "PREC", comunistas, fascistas, ELP, MDLP, nada. Fechou um ciclo. Uma ditadura já a cair de podre, com polícia política infiltrada em tudo o que mexesse, livros proibidos, canções proibidas, censura aos jornais e aos espectáculos, presos políticos, mulheres impedidas de votar, de viajar sozinhas, eleições falseadas. A par, verdadeira fome, nomeadamente nos arrabaldes das grandes cidades e parcos apoios para quem deles necessitasse.E eram muitos. A já referida guerra afectava sobretudo os filhos de gente com menos recursos, sem "cunhas" para evitar esse martírio.
Que para os jovens tudo isto seja música celestial, entende-se. Para quem ainda passou pela ditadura, enfim, transcende a minha compreensão. E o pior é quando a ignorância tolda as mentes. E todos sabemos que Salazar morreu pobre! Evitou que entrássemos na 2ª Guerra Mundial. Mandou construir pontes, estradas, mercados, feiras. Claro que sim. Como qualquer estadista. Todos esses elogios ao ditador, palavra que, na época, não era ofensiva, pois Ditadura Nacional era assumida com orgulho, embora na Europa já houvesse poucas, são comprovados pela História. E ninguém os nega. Ninguém com esclarecimento pode negar.
O problema da ignorância é outro. Dar como verdadeiro o que a imprensa da época publicava ou não publicava. Além dos dramas socias que eram escondidos, tudo o que pudesse beliscar a imagem de um regime que se queria mostrar perfeito era enclausurado numa arca e a chave atirada ao mar. Será a pedofilia um mal de hoje? E a pederastia? E as violações? E os assédios? E o enriquecimento ilícito dos mais poderosos? Os suicídios? A violência doméstica? A discriminação racial e sexual? Os assaltos? Os furtos? A exploração por parte de grandes empresas? Os impostos? Era perfeita a colocação de professores? Eram respeitadas as carreiras? Os salários eram magníficos? Os bailes da gravatinha, onde os governantes se divertiam com "virgens" , foram inventados?
O Estado Novo fechava a sociedade a tudo. Até ao resto do mundo. Nada era divulgado para dar ideia de paz, progresso, bem estar, ordem. Era , sim, uma farsa bem urdida pelos governantes e polícia. Quem tiver assim muitas dúvidas, dirija-se à Torre do Tombo e aos arquivos distritais, onde encontra documentos diversos mostrando quão podre era o poderoso Estado Novo.
E dirão os críticos, mas hoje, funciona tudo bem? Não, respondo eu. Funciona mal. Mas a culpa não é do dia "25 de Abril", nem dos revolucionários do "período quente" e que viviam no mundo utópico das ideologias comunistas. Desses já há tão poucos! Mesmo nos dois partidos onde ainda podem encontrar-se, já são uma raridade. A culpa é dos "filhos" e "netos" destes, que, vivendo sempre em liberdade, aproveitaram as fragilidades da democracia para darem cabo disto tudo e encherem-se de privilégios. O liberalismo económico e o capitalismo amancebaram-se para controlar. E se houve um 25 de Novembro, ainda bem que houve!, foi graças à abertura política do 25 de Abril. Só tivemos políticos como Sá Carneiro ou Mário Soares e militares como Ramalho Eanes, porque o 25 de Abril os trouxe. O 25 de Novembro não é mais do que o fim lógico do desvario revolucionário. Porque nenhum país conseguiria subsistir com greves todos os dias, ocupações, perseguições, bombas, desordem, medos vários. Até naqueles em que o comunismo ficou a governar, acabou com a desordem instaurando a "democrática" ditadura do proletariado. Mas os verdadeiros democratas portugueses não quiseram isso. Não deixaram. Lutaram contra. E para os defensores acérrimos de uma sociedade social e livre, do dia 25 de Abril passou-se para o dia 25 de Novembro. O resto foi barulho. E algum lixo. Lamentavelmente, com algumas mortes.
Eu acredito na democracia. Em grande parte dos que hoje se auto-intitulam democratas, não! Porque estes, mais conservadores ou mais progressistas, têm gerido mal o país. Aliás, criticam-se mutuamente, mas quando a roda eleitoral vira, não alteram o que antes açoitaram tão asperamente. Mas isto nada tem a ver com "abris ou maios". Tem a ver com homens e mulheres oportunistas, nas diferentes áreas, sem escrúpulos que, propositadamente, mantém uma Justiça injusta e amorfa, com vistas míopes.
Por fim, o 25 de Abril trouxe-nos a liberdade de dizer o que está mal, sem irmos presos. Libertou-nos do sufoco absurdo de uma ditadura. Não me identifico com os festejos engravatados e pomposos, entre elites e discursos de circunstância. Não! Até esses esqueceram muito depressa que o "25 de Abril" não se fez para ser lembrado assim. É uma efeméride popular, deve festejar-se na rua, entre iguais.
" Em cada esquina um amigo, em cada rosto igualdade..." . Viva a democracia! Viva a Liberdade! Viva o 25 de Abril!
Acreditei na maioria do povo anónimo alemão quando, no final da Segunda Guerra Mundial, afirmou desconhecer, em pormenor, o que se passava nos Campos de Concentração, tal como noutras atrocidades que os nazis cometeram. O nazismo foi uma ideologia assassina e uma parte substancial dos alemães, mesmo os que apoiavam Hitler, não era por questões ideológicas, mas na esperança de que alguém - um salvador da pátria - os livrasse da crise em que estavam atolados. Os que professavam a ideologia execrável estavam bem identificados. A censura férrea e a propaganda assertiva, transformava os alemães comuns em ignorantes.
Agora, também acredito que grande parte do povo russo não saiba, com exactidão, os crimes praticados pelos oficiais e soldados de Putin na Ucrânia. Com excepção para as mães dos militares que vão tombando nas batalhas. E mesmo destas, tenho algumas reservas. A propaganda pode muito. Tem muita força.
A forma como Putin cercou os orgãos de comunicação social, a INTERNET e as penas de prisão para quem tenha o atrevimento, ou ousadia, de contar a versão ocidental, torna muito fácil o controlo sobre as pessoas. E a disseminação da "verdade russa" entra pelos meandros sociais. Intoxica tudo e todos.
Como humanista, se achasse, desde logo, que o povo comum russo sabe de tudo e aceita passivamente, deixava, em definitivo, de confiar nas pessoas. E eu não quero. Se, um dia, for provado o contrário, cá estarei para repudiar gente tão assassina como o seu líder. Nós, o povo, queremos sempre a paz; mas, infelizmente, somos os "servos" de quem decide. E infelizes dos que servem os decisores das guerras.
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