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A Liberdade é de ouro

por Jorge Santos, em 21.05.22

Fátima paulo cunha EPA.jpg

Foto: Paulo Cunha/EPA

   Estávamos, todos, fartos de confinamentos e restrições. Até os defensores de uma democracia musculada, aqueles que querem pôr filtros em certos tipos de liberdades, estavam fartos. E vivívamos em ditadura consentida (utlizando uma palavra, hoje, muito grata e essencial) e temporária. Não cabe nesta prosa discutir se tais restrições motivadas pela COVID eram ou não necessárias. Isso é argumento para outro filme. Por agora, concentremo-nos na liberdade que perdemos durante dois anos.

  É bom perceber esta faceta do povo português:o gosto pela liberdade! E a economia agradece, pois só um povo livre consome de modo satisfatório em todas as áreas. Uma ditadura de mais de 40 anos atrofiou Portugal e ainda têm "saudosistas" até dizer chega; os mais jovens, não surpreende, pois só sabem viver em liberdade e nem imaginam viver sem ela (tiveram neste confinamento um pequeníssimo exemplo, mas assutador); incompreensível, os mais velhos; viveram ainda no período do Estado Novo. Das duas uma, ou eram privilegiados e pretendiam continuar a sê-lo, mesmo sabendo que os seus semelhantes viviam mal ou, então,  são puros masoquistas! Talvez meros provocadores, afinal. Independentemente das circunstâncias, a verdade é simples de definir : a esmagadora maioria do povo já não passa sem a liberdade social, cultural e política. A económica  é coisa ideológica e fica para outro dia.

  Não podemos esquecer as festas populares, as pregrinações a Fátima, Santiago e outras, a actividade desportiva, o convívio em bares e cafés, o rally de Portugal, os concertos de verão, a praia, as discotecas, as viagens turísticas e de negócios, o fecho de lojas e escolas e a traumatizante permanência em casa. Com limitações parecidas, quiçá mais duras, há povos que aguentam, estóicos, sem reclamação possível. E com a agravante de um incumprimento dar cadeia. E sempre caladinhos. Refiro-me à China, à Coreia do Norte, à Venezuela, à Rússia e a alguns países afro-asiáticos. O povo que não tem liberdade no dia-a-dia não sofre tanto. Estão habituado a restrições ditatoriais e prisões por coisas tão simples como ler um livro... .

  Mas a gente das grandes democracias, sofreu, protestou, transgrediu.Lutou! Sentindo a privação de liberdades tão básicas, auto-intitulou-se prisioneira, numa prisão com janelas sem grades.

  Esta forma de sacudir a opressão, a mim, um adepto incondicional da liberdade político-social, encheu-me de esperança. De sofrimento, sim, mas de esperança também.

  O povo livre não quer deixar de o ser. A maioria, claro. E se, às vezes, em actos eleitorais prega-nos uns sustozitos, no fundo, é para abanar o sistema e mostrar aos políticos a sua força. Pois não o vejo capaz de, deliberadamente, entregar o ouro ao bandido e colocar a cabeça sob o jugo de um ditadorzeco qualquer.

 O 25 de Abril trouxe-nos a liberdade. E nenhum de nós consegue passar sem ela. Seja em que sector for. Porque é uma necessidade social inegociável. Imprescindível. Mas esgotável, cuidado.

publico-wrc.jpg

Foto: WRC

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publicado às 20:44

Festejar o quê?

por Jorge Santos, em 25.04.22

Alfredo cunha 1.jpg

  Hoje é um dos dias mais importantes para o povo português. Concordando ou discordado, é uma data que não deixa ninguém indiferente.

  Foi um dia feliz para mim. Por muitas e variadas razões, não importa . O que me surpreende é ler textos, cujos autores, referindo-se a Abril, perguntam, "festejar o quê?"

  Se, quem escreve, pertencia à elite do Estado Novo ( políticos, juízes, polícias, guardas, pides, "bufos", empresários comprometidos, ideólogos do fascismo, etc.), entendo na perfeição. Aos que vivam nas ex-colónias, também percebo, se for o desabafo do trauma que qualquer pessoa sofre quando se vê no meio de uma guerra e tem de abandonar a sua casa. 

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  Todos os outros, não compreendo. Preferirão as pessoas viver em ditadura? Com  censura, presos políticos, polícia política, sem direitos sociais e liberdades básicas restringidas? Se não querem, parece. Mas, provavelmente, preferem.

  Para mim, o simples facto de poder estar aqui a expor o que penso, já é motivo para festejar. Sim, porque em 24 de Abril, no Liceu, os estudantes progressistas ( onde me inseria) lutavam para que a Associação de Estudantes fosse eleita livremente por todos os aluno. E não nomeada pelo Reitor, para a manipular a seu bel-prazer. O que nos colocava debaixo de olho dos poderes opressores. Ser livre é motivo para festejar. Principalmente numa época em que a liberdade é posta em causa todos os dias por forças populistas de esquerda e direita.

alfredo cunha 3.jpg

    A democracia tem custos e não é fácil preservá-la. É frágil e foi criando inimigos devido à quantidade de políticos que a usam em proveito próprio e que urge erradicar.

  Mas, até hoje, não há melhor para quem sente a liberdade tão importante como o ar para respirar.

  Viva o 25 de Abril!

( Crédito das fotos: Alfredo Cunha, um dos mais icónicos fotojornalistas que acompanharam essa madrugada determinante para o fim da ditadura)

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publicado às 16:27

Festejar Abril. Sempre!

por Jorge Santos, em 20.04.22

25A cravo.PNG

  Percorrendo as redes sociais, desde logo um privilégio das sociedades democráticas, encontro mais do que gostaria, vitupérios ao "25 de Abril". Um dos mais comuns : " "Não festejo o 25 de Abril!". Sendo um direito que assiste a qualquer pessoa, num país livre, festejar o que bem entender, percebe-se o acinte da frase. Provocar a "esquerdalha" , designação pejorativa, usada pelas gentes de direita, quando referem a de esquerda. Até há alguns meses, essa insistência não me aquecia nem arrefecia. Agora, preocupa-me. E não é o facto de não festejarem. É o local onde vão pôr a cruzinha  no dia das eleições.

  O "25 de Abril" tem dois aspectos essenciais; por ignorância ou má fé, são "esquecidos" pelos "não festejadores" : podermos dizer e escrever o que pensamos, nem que seja contra o "status quo" e  vermos o fim da Guerra Colonial,  para onde mandavam os jovens portugueses. Matar e morrer. Só isto chegava para o "25 de Abril" ser uma das datas mais importantes da História de Portugal.

  O dia de que falo, é isso mesmo, o dia e o seu significado global, nada tem a ver com "PREC", comunistas, fascistas, ELP, MDLP, nada. Fechou um ciclo. Uma ditadura já a cair de podre, com polícia política  infiltrada em tudo o que mexesse, livros proibidos, canções proibidas, censura aos jornais e aos espectáculos, presos políticos, mulheres impedidas de votar, de viajar sozinhas, eleições falseadas. A par, verdadeira fome, nomeadamente nos arrabaldes das grandes cidades e parcos apoios para quem deles necessitasse.E eram muitos. A já referida guerra afectava sobretudo os filhos de gente com menos recursos, sem "cunhas" para evitar esse martírio.

  Que para os jovens tudo isto seja música celestial, entende-se. Para quem ainda passou pela ditadura, enfim, transcende a minha compreensão. E o pior é quando a ignorância tolda as mentes. E todos sabemos que Salazar morreu pobre! Evitou que entrássemos na 2ª Guerra Mundial. Mandou construir pontes, estradas, mercados, feiras. Claro que sim. Como qualquer estadista. Todos esses elogios ao ditador, palavra que, na época, não era ofensiva, pois Ditadura Nacional era assumida com orgulho, embora na Europa já houvesse poucas, são comprovados pela História. E ninguém os nega. Ninguém com esclarecimento pode negar.

 O problema da ignorância é outro. Dar como verdadeiro o que a imprensa da  época publicava  ou não publicava. Além dos dramas socias que eram escondidos, tudo o que pudesse beliscar a imagem de um  regime que se queria mostrar perfeito era enclausurado numa arca e a chave atirada ao mar. Será a pedofilia um mal de hoje? E a pederastia? E as violações? E os assédios? E o enriquecimento ilícito dos mais poderosos? Os suicídios? A violência doméstica? A discriminação racial e sexual? Os assaltos? Os furtos? A exploração por parte de grandes empresas? Os impostos? Era perfeita a colocação de professores? Eram respeitadas as carreiras? Os salários eram magníficos? Os bailes da gravatinha, onde os governantes se divertiam com "virgens" , foram inventados?

  O Estado Novo fechava a sociedade a tudo. Até ao resto do mundo. Nada era divulgado para dar ideia de paz, progresso, bem estar, ordem. Era , sim, uma farsa bem urdida pelos governantes e polícia. Quem tiver assim muitas dúvidas, dirija-se à Torre do Tombo e aos arquivos distritais, onde encontra documentos diversos mostrando quão podre era o poderoso Estado Novo.

 E dirão os críticos, mas hoje, funciona tudo bem? Não, respondo eu. Funciona mal. Mas a culpa não é do dia "25 de Abril", nem dos revolucionários do "período quente" e que viviam no mundo utópico das ideologias comunistas. Desses já há tão poucos! Mesmo nos dois partidos onde ainda podem encontrar-se, já são uma raridade. A culpa é dos "filhos" e "netos" destes, que, vivendo sempre em liberdade, aproveitaram as fragilidades da democracia para darem cabo disto tudo e encherem-se de privilégios. O liberalismo económico e o capitalismo amancebaram-se para controlar. E se houve um 25 de Novembro, ainda bem que houve!, foi graças à abertura política do 25 de Abril. Só tivemos políticos como Sá Carneiro ou Mário Soares e militares como Ramalho Eanes, porque o 25 de Abril os trouxe. O 25 de Novembro não é mais do que o fim lógico do desvario revolucionário. Porque nenhum país conseguiria subsistir com greves todos os dias, ocupações, perseguições, bombas, desordem, medos vários. Até naqueles em que o comunismo ficou a governar, acabou com a desordem instaurando a  "democrática" ditadura do proletariado. Mas os verdadeiros democratas portugueses não quiseram isso. Não deixaram. Lutaram contra. E para os defensores acérrimos de uma sociedade social e livre, do dia 25 de Abril passou-se para o dia 25 de Novembro. O resto foi barulho. E algum lixo. Lamentavelmente, com algumas mortes.

  Eu acredito na democracia. Em grande parte dos que hoje se auto-intitulam democratas, não! Porque estes, mais conservadores ou mais progressistas, têm gerido mal o país. Aliás, criticam-se mutuamente, mas quando a roda eleitoral vira, não alteram o que antes açoitaram tão asperamente. Mas isto nada tem a ver com "abris ou maios". Tem a ver com homens e mulheres oportunistas, nas diferentes áreas,  sem escrúpulos que, propositadamente, mantém uma Justiça injusta e amorfa, com vistas míopes.

  Por fim, o 25 de Abril trouxe-nos a liberdade de dizer o que está mal, sem irmos presos. Libertou-nos do sufoco absurdo de uma ditadura. Não  me identifico com os festejos engravatados e pomposos, entre elites e discursos de circunstância. Não! Até esses esqueceram muito  depressa que o "25 de Abril" não se fez para ser lembrado assim. É uma efeméride popular, deve festejar-se na rua, entre iguais.

  " Em cada esquina um amigo, em cada rosto igualdade..." . Viva a democracia! Viva a Liberdade! Viva o 25 de Abril!

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publicado às 14:28


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