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Emitamos, sem medo, a nossa opinião. Como a imparcialidade é um mito, confessemos as nossas PARCIALIDADES.
Conheço-a há muito tempo. Éramos jovens, não havia redes sociais, computadores e telemóveis. A interação era diferente, não sei se melhor ou pior, deixo isso para os especialistas na matéria, mas diferente. Muito. Juntávamo-nos no café, nas casas de uns e outros, saímos ao sábado à noite para tomar uns copos e, às vezes, ao domingo. Nas férias, era a praia, as viagens, as noites inteiras ao luar. Cada um com os seus problemas, desabafávamos, aproveitávamos o convívio para arejar ideias, descontrair, maldizer as coisas más. Momentos felizes. Penso que o eram. Para mim, foram.
Ela sempre foi uma pessoa serena, agradável no trato, dava opiniões e era solidária entre amigos. Nunca a tinha visto lançar provocações, frases com o intuito de magoar, agressões verbais mais ásperas, ofensivas. Afinal, como amigos, convivíamos pacificamente. Ríamos, às vezes das nossas diferenças. Dávamos sempre oportunidade ao contraditório. E convergíamos , mesmo quando, acaloradamente, abordávamos o futebol e a política, os dois temas fracturantes num grupo de amigos. Nunca ficámos divididos por causa disso. A tolerância era regra tácita. Sem dramas, sem pressões.
Com o andamento da vida, uns ficam, outros vão e o contacto passa a ser muito mais raro. Entretanto, as redes sociais surgem e mudam por completo as nossas vidas. Gente que não se via há décadas, passou a conviver num mundo específico: o facebook. Entre "likes" e saudações, vamos conhecendo, outra vez, as curvas da vida.
Sem perceber muito bem porquê, dois desses amigos da "velha guarda" bloquearam-me na rede social. Surpreso, tentei encontrar motivos. Não consegui! E esses dois desapreceram de vez. Provavelmente, nos tempos em que vivíamos juntos quase todos os dias, não mem suportavam. E sem coragem para dar-me um tiro, aproveitaram a rede para me colocarem fora da sua esfera de amizades.
Ela não me "abateu". Mas os ódios com que passou a escrever, "mataram-me" de pasmo. Foi o futebol e a política, os tais temas delicados que não deviam jamais beliscar amizades ( afinal, a tolerância ...). Postagens sobre futebol, não a enaltecer os feitos das suas cores preferidas , como devia ser, mas de forte pendor provocatório para os que gostam de clubes rivais. Ódio, importa dizê-lo. Agressividade, hostilidade. Sem qualquer menção ao seu emblema favorito. A ideia que dá é de ter só ódio em relação aos outros e nenhuma paixão em relação ao seu. O ódio alheio alimenta a sua paixão. Na política, outra desilusão. Contra tudo e contra todos, mas extremamente desagradável a responder aos comentários elevados ( e fundamentados) de quem discorda. Também aí transparece ódio.
Lembrando a pessoa, jamais iria imaginar que estava sufocada desse ódio. Que guardou durante décadas, para despejar logo que o facebook lhe deu oportunidade de exercer a liberdade de expressão. Como foi capaz de disfarçar esta faceta odiosa e provocatória durante tanto tempo? Não deve ter sido fácil .
Nas conversas pessoais em que abordo estes casos, dizem-me que é "o pão nosso de cada dia" do facebook e de outras redes sociais. As pessoas são capazes de fazer comentários no facebook que frente-a-frente jamais fariam.
É pena, digo eu. Porque esse ódio que a rede facilita vira-se, quase sempre, para quem o expressa. A mim pouco afecta. Deixo de ler, de acompanhar. Ninguém gosta de ser, sitematicamente, hostilizado. Como eu, outras pessoas. Mais cedo ou mais tarde, ela dá conta disso. E este distanciamento, faz mossa. Penso, até, que o desprezo é do que mais custa a suportar. Mas para o ódio e fanatismo, não há outra solução. A rede veio, também, dar um "palco" a quem é alégico a holofotes. E pronto, vivem na concha, envolvidos em radicalismos. Tempos...
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