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Onde está o socialismo em Portugal?

por Jorge Santos, em 06.07.22

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 A mim, social-democrata sem partido, satura-me a conversa de que vivemos num regime socialista. Será pelo nome do partido do governo? Só pode. A partir do momento em que Mário Soares colocou o marxismo ( por consequência, o socialismo) na gaveta, adeus ideologia! Depois, alguém poderia pegar na chave, reabrir a gavela e retirá-lo de lá. Mas não! A chave foi atirada ao mar em lugar incerto.

 Um partido, cujo nome é socialista, deve corar de vergonha por pôr em prática políticas económicas liberais. O nome e a suposta ideologia, implicavam uma aposta social diferente. Gente que gosta de assumir-se progressista, de esquerda, socialista, fica muito mal na foto com a forma como organiza e gere o país. E a ambiguidade entre o público e o privado. Se realmente fossem socialistas, essa ambiguidade não existiria.

O liberalismo económico de Cavaco Silva e Ferreira Leite mantém-se. Mudaram os nomes dos governantes, mas a política manteve-se com os vindouros. Nem os da "esquerda", Sócrates e Costa, mudaram o rumo. Antes pelo contrário. Continuaram-no a todo o vapor.

 As medidas tomadas diariamente, favorecem os privados, prejudicando o que é ( foi/deveria ser) público. A classe média continua num poço sem fundo, agarrada às paredes. Multinacionais - pagam o salário mínimo aos trabalhadores - são proprietárias das principais empresas lucrativas, bancos, seguros, hospitais, Tap ( para mal dos nossos pecados ninguém consegue pôr um ponto final na crise!), distribuidores de electricidade, correios. Enfim, quase tudo. Tudo o que exige aos portugueses pagarem, pagarem, pagarem. Além dos impostos, claro! 

 Com esta sobrecarga de pagmentos, taxas e outros "caça níqueis", como pode sobreviver-ser em Portugal? Política partidária (com todo o seu polvo), algumas profissões públicas e privadas, mas que estão saturadas, alguns profissionais liberais. E a corrupção aparece; é a consequência lógica de regimes ultra-liberais ou liberais.

 Se o país está entregue aos privados, por que raio sobem os nossos impostos? Mais um logro do liberalismo. Cujas explicações são tão tôpegas que ninguém entende.

E as pequenas e médias empresas? Apertadas pelo pescoço até esganarem! 

 O socialismo democrático (no século XXI, na Europa, não concebo outro) implica, além do apoio aos mais desfavorecidos, impostos colectados e aplicados com equidade, controlo da gestão das principais empresas, justiça severa aos que burlam o erário público, e tendência para a nacionalização e não para a privatização. E, claro, mudança nas elites do poder. Todas. Só a social-democracia pôe, depois, ordem nisto ( vejam como é na Finlândia, por exemplo)

 O que temos em Portugal e nos irrita a quase todos é o liberalismo económico. Que pode travestir-se com as  mais diversas fatiotas. Agora é o fato à "socialista", antes, foi a capa da "social-democracia". E nesta alternância, quase passagem de modelos, vamos sendo enganados e encostados às cordas da sobrevivência.

 

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publicado às 19:27


19 comentários

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De Carlos Marques a 07.07.2022 às 23:43

Explicação (8 pontos, 2 comentários):

1- escolaridade lá (melhor graças aos tempos Soviéticos lá, e pior graças à ignorância promovida pelo Fascismo cá. Ainda nós tínhamos enormes taxas de analfabetismo em 1974, e já países do leste Europeu na URSS tinham excesso de engenheiros aero-espaciais. Agora nós conduzimos tuk-tuk para matar a fome, enquanto eles têm boa participação na ESA);

2- moeda própria até mais tarde (= exportações mais competitivas, não chegaram a ter 10 anos como nós numa moeda disfuncional. Vários desses países só sabem o que é estar no € durante o Quantitative Easing)
O € é a pior coisa q Portugal fez nos últimos 30 anos. Enquanto não voltarmos a ter moeda própria, vamos continuar em morte lenta. Quem disser o contrário, está a mentir, ou por extrema ignorância, ou extremo fanatismo.

3- fundos europeus (quando Portugal recebia muitos, nos anos 90, era o tigre do crescimento, com média REAL acima dos 3% ao ano; mas desde alargamento nós perdemos esses fundos (fora os desperdiçados pela oligarquia e corruptos do PS/PSD/CDS) e agora são os do leste que os recebem);

4- investimento público (aqui entra um pouco dos pontos 2 e 3: por causa das regras do €, Portugal não pode investir para sair do buraco, logo o buraco é cada vez maior. Entretanto, países de leste chegam a ter DOBRO (ou +) do investimento q nós temos (2% vs +4% do PIB). Com a agravante da farsa q P"S" tem feito desde 2016: cativar investimento para fazer de conta q cumpre "regra" do défice sem sentido nenhum. Assim, países de leste somam fundos europeus ao seu investimento próprio, enquanto nós usamos fundos europeus só para compensar parte do investimento próprio cativado. Em resultado das "regras apertadas" dos fundos europeus, raramente esses fundos podem ser usados no q o país realmente precisa.)

5- demografia (Portugal, graças ao SNS, tem muita gente a viver até tarde, e graças à Crise do €, tem muitos jovens em idade de procriar q saíram do país ou q cá ficaram sem condições para ter filhos. O facto de Portugal estar há mais tempo em Schengen, e esses países terem fronteiras para circulação de pessoas até mais tarde, foi uma vantagem para eles, e uma perda para nós. E hoje esses países fixam os seus jovens, enquanto licenciados portugueses são capital humano q Alemanha e outros adquiriram de borla (i.e. sem gastar na sua formação)).

6- motor da Europa, Alemanha (esses países beneficiam de maior proximidade à Alemanha, e com os fundos conseguiram mais integração económica. Portugal, sempre periférico, andou décadas a receber fundos para desindustrializar, depois o corrupto Cavaco trouçe Auto-Europa só para enfeitar, e desastre está à vista).
Muita gente esquece q na UE, não há "união" nem "cooperação", há concorrência. E fundos q recebemos não são "subsídios" ou "ajuda", mas sim pequenas compensações pela nossa desindustrialização (para não aumentar concorrência à indústria do centro da Europa). As "elites" €uropeístas portuguesas destruíram país, e enquanto houver mama, vão continuar a fazê-lo. Veja-se os recentes 40 milhões para o accionista da TVI e dos cruzeiros do Douro. É isso o "€uropeísmo"...

7- financeirização e "grupo da frente" (Portugal é, por fanatismo ideológico €uropeísta, o país q vai "no grupo da frente", i.e. enquanto outros países se protegem e negoceiam, Portugal só tem PS e PSD q em nome dos tais fundos mal usados pelas suas "elites" (aka clientelas) aceitam qualquer coisa da UE e obedecem (mito do "bom aluno"). Resultado é q enquanto outros países têm sectores estratégicos nas mãos do Estado, Portugal é quem privatiza mais (ex: CTT, REN) e até coisas q outros países nunca aceitarão privatizar. Outro exemplo são os tratados económicos, q Portugal assina de cruz, mesmo q isso nos prejudique, e só pq quem assina quer um tacho no BCE, Comissão, etc, quando deixar política em Portugal. Pelo contrário, vimos como Bélgica resistiu e negociou até ao fim o TTIP, e só aceitou quando passou a beneficiar)
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De Carlos Marques a 07.07.2022 às 23:44

8- NeoLiberalização do mercado laboral (hoje em vez de trabalhadores, temos "colaboradores". Começa logo na propaganda da linguagem. Depois, nos direitos: ataque ao sindicalismo e aos contratos colectivos, destruição de direitos, etc. Resultado é um sindicalismo muito mais baixo em Portugal, e menos contratos colectivos. Esse fanatismo ideológico NeoLiberal, levado IGUALMENTE a cabo por rosas e laranjas, reduz capacidade negocial dos trabalhadores. O q resulta em salários cada vez mais baixos mesmo COMPARATIVAMENTE com a produtividade! Se Suecos viessem trabalhar para Portugal, o país tinha greve meses seguidos, pois o que temos cá, pouco melhor q Fascismo, é inaceitável para esses povos. No final isto também afecta o crescimento, ao capar consumo interno e poupança)

Como já conheço isto tudo de cor e salteado, pois passei os últimos 11 anos a ler diariamente artigos a explicar tudo isto e muito mais, tenho também já conhecimento das soluções:
1- já está solucionado, graças à escola pública e ensino obrigatório no pós-1974
2- é preciso sair do €uro o quanto antes. De forma ordenada, isto faz-se através do ERM (Exchange Rate Mechanism), onde está actualmente a Dinamarca, e por onde Portugal passou nos anos 90.
3- mudar de governo, para um que não seja refém das clientelas oligárquicas/económicas, e invista os poucos fundos que vamos recebendo na re-industrialização e auto-suficiência, a começar pela alimentar e energética
4- explicar que o que foi dito ás pessoas nos últimos 15 anos (que défice = dívida, e que 2011 foi uma falência) é factualmente mentira. É preciso acabar com cativação do investimento, e todo o 1€ investido a mais no que é preciso e é reprodutivo, não significa +1€ de dívida, mas sim mais 3€ ou 4€ ou mais €uros (depende do multiplicador) de economia nos anos seguintes
5- sair da zona schengen, multiplicar por 10x os actuais apoios à fixação de jovens no país, e acima de tudo (e isto só é possível com saída do € e com mudança das leis laborais e de muita mais coisa) voltar a praticar uma política Social-Democrata de PLENO EMPREGO, em vez da actual política NeoLiberal de aumento propositado do desemprego da pobreza como forma indirecta de causar baixa de salários
6- mudar o partido de governo de forma a ter à nossa frente quem faz frente aos off-shore e interesses instalados. Voltar a ter política proteccionistas, e obrigar a UE a re-negociar caso queira vender os seus produtos na nossa economia (tendo em conta que somos hoje em dia mais importadores do que exportadores, isto será muito benéfico para nós).
7- reverter financeirização, acabar com o paleio do "os bancos não podem falir", fechar offshore da Madeira (=mais receita fiscal/carga fiscal mesmo sem subir impostos), e começar a nacionalizar sectores estratégicos e monopolistas. São sectores rentáveis, logo é um aumento de dívida temporário, pois essas compras pagam-se a si próprias. Aliás, foi exatamente por isso que houve compradores privados: porque tudo o que pagaram, já receberem de volta uma ou mais vezes! Isto significa também mandar a UE à m*rda no que à cedência de slots da TAP diz respeito. O país é nossa, a empresa é nossa, a RyanAir que se vá f*der!)
8- o oposto de NeoLiberalização é Social-Democratização, de preferência em direcção ao Modelo Nórdico com sistema de Ghent (fez sindicalização nesses países chegar a +85%). Reversão imediata de todas os ataques laborais feitos pelo P"S", e PSD/CDS no tempo da troika. Avançar o quanto antes para as 35h/semana em todos os sectores, Público E PRIVADO. Vai-se gastar mais dinheiro em salários? Não! Vamos ter mais riqueza a ser DEVOLVIDA a quem a cria, e menos gente no desemprego. Foi assim nos Nórdicos, e será assim aqui também!

Tal como o autor, eu sou um Social-Democrata sem partido, adepto do Modelo Nórdico e sistema de Ghent. Há um partido que nos pode colocar neste caminho. Chama-se Bloco de Esquerda. De preferência num governo de maioria relativa, onde tenha de negociar alguma coisa com um minoritário Livre.
O PCP/PEV são Marxistas demais. E tudo o resto é ideologia NeoLiberal e fanatismo €uropeísta, só muda a cor da embalagem: P"S", P"SD", CDS, IL Ch.
Então e o PAN? Por favor, eu não vim aqui falar de anedotas!
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De Jose a 08.07.2022 às 00:14

Tanta conversa, com imensa confusão nessa cabeça! Até pensei que ia candidatar-se a Primeiro Ministro. Trotskistas sociais-democratas e adeptos do modelo nórdico?Ah não, não conte anedotas!
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De Carlos Marques a 08.07.2022 às 05:58

O José é um analfabeto (não/percebeu nada do que tentei explicar), e um economico-excluído (percebe zero de macro-economia). E como não tem contra-argumentos e a única coisa que sabe é a cartilha que lhe dão na missa ideológica/partidária que frequenta, quiçá de avental, é forçado a recorrer aoargumentum ad hominem.

Vou tentar só mais uma vez de forma resumida: Portugal está de tal forma NeoLiberalizado e com governos €urofanáticos que condenam o país (e os trabalhadores) à morte lenta que, não havendo um Portugal um partido de ideologia Social-Democrata defensor do Modelo Nórdico e sistema de Ghent, e sendo o P"S" um ninho de traidores (tipo UG"T"), a única alternativa política em Portugal é ter o quanto antes um governo de um partido Socialista Democrático como o BE. Quiçá com uma coligação com o PCP num primeiro momento para nos tirar da €uro-DITADURA, e depois uma coligação com o Livre numa legislatura seguinte.

O mal de Portugal são ignorantes como o José. Ou pior, os propagandistas que chamam "democracia liberal" ao regime autoritário NeoLiberal e de desigualdade pornográfica que temos, que chamam "centro moderado" às polítucas EXTREMISTAS que podiam ter sido aplicadas por Pinochet, que chamam "sucesso" à moeda que nos continua a arruinar (e agora com inflação descontrolada à la Venezuelana), e ainda gastam precioso dinheiro dos nossos impostos para financiar a máquina CRIMINOSA DE GUERRA e recordista de invasões e mortos civis chamada NATO (iniciada em 1949, com assinatura do ditador fascista do império racista Português).

A este propósito, eu e muitos temos vergonha do CRIME que a Suécia acabou de fazer contra o heróico e democrático povo Curdo, só para obedecer ao ditador Turco,e passar a participar oficialmente nas invasões do Império das Mentiras.

Mesmo assim , a melhor decisão da minha vida foi fugir daí para fora e vit para um país Nórdico. Já não preciso de lutar, aquilo que defendo já existe, e funciona muito bem!
Agora f*dei-vos uns aos outros no vosso regime de fachedo rosa e laranja azulado, que a mim nãome f*deis mais!!
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De Jorge Santos a 12.07.2022 às 21:38

Caro amigo José, é a minha opinião e não tenho medo de expressá-la. Se não concorda e quer argumentar, faça-o de forma elevada, a caixa de comentários é livre. Se não sabe argumentar ou não está com pachorra para isso, evite esse tom arrogante e sobranceiro, próprio dos ignorantes, que você não é. E siga a sua vida- Abraço
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De Jorge Santos a 12.07.2022 às 21:51

Caro Carlos Marques, excelente reflexão. Muito obrigado. Abraço
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De MC a 08.07.2022 às 10:40

bom dia.
o senhor tem razão em muita coisa e carrego sem fim nas teclas educação, profissionalismo real, civismo, empreendedorismo competente e recompensado, pensar maior, justiça muito mais célere, impostos justos (a recompensar quem investe e quem trabalha mais e não ao contrário), formação continua como estimulo para compensações e fluxos migratórios adequados (qualquer pessoa, salvo impossibilidade, trabalha e é ajudada a trabalhar).
cumprimentos

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