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Liberdade à consciência

por Jorge Santos, em 11.06.22

consciência.jpg

  Não entendo, a sério! Não entendo tanta discussão acerca da eutanásia. Já (quase) todos sabem do que se trata, por isso, deixem a consciência de cada um seguir o seu caminho. Não venham com "jogos florais", instrumentalização ideológica e outras patetices. 

 Falar de consciência é abrir uma caixa de pandora. Não pretendo tal coisa. Apenas manifestar-me contra a hipocrisia e a mentira. E a politização de um tema que não merece tão baixo nível de análise. 

 Numa sociedade livre, democrática, ninguém deve ser molestado, censurado, proibido, de levar a cabo o que acha mais correcto na gestão vital. E ninguém tem o direito de impôr o que quer que seja neste mister.

  No tempo das proibições, dos paladinos da verdade, dos censores de consciências, tudo em nome da nação, da família, da religião, do conservadorismo "naftalinado", as "senhoras dos senhores do regime" iam à Suiça fazer o que aqui condenavam e proibiam - o aborto.  Esse tempo acabou. Ou devia ter acabado.

 Hoje, para recorrer à eutanásia, é preciso sair do país. Ou seja, o dinheiro condiciona a consciência. O que é demasiado escandaloso. Este país não é para pobres, eu sei, mas haja igualdade no que concerne a temas tão subjectivos.

  Niguém é obrigado a recorrer a esse processo. Por isso, os Cuidados Paleativos devem continuar a ser incentivados e desenvolvidos. São essenciais.  Mas nada têm a ver com a eutanásia. São recursos diferentes para opções diferentes, formas diversas de pensar a vida. E a objecção de consciência é um direito que já existe há muito tempo. Por isso, qual é o problema?  Os direitos são relíquias e os deveres suas guardiãs. Ser livre é também deixar que os outros o sejam.

 Referendo? À consciência dos outros? Outra patetice...

 Votado, e bem, na Assembleia da República. Curioso o alinhamento do Chega com o PCP - as máscaras vão caindo. Agora, o Presidente da República, progressista apenas no que lhe convém, vai "fatalmente" vetar. 

  Os cidadãos com capacidades financeiras vão continuando a deslocar-se à Suiça - felizmente já podem ir a Espanha. Os outros, a esmagadora maioria, a "arraia miúda"  que construiu Portugal, parafraseando Marcelo Rebelo de Sousa, continua a ser tratada à parte. Por serem pobres, não têm  consciência? Cumpra-se a democratização da sociedade!

 

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publicado às 21:32


5 comentários

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De Jorge Santos a 13.06.2022 às 20:55

Excelente abordagem ao lado religioso da questão. Abraço
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De SAP3i a 13.06.2022 às 23:42

1 – A minha “parcialidade” -- sobre esta questão da “liberdade e consciência” sobre o destino a dar a cada Continuidade de cada um de nós -- está expressa no meu nick «SAP3i» (acrónimo de «singularidade autónoma perpétua insolúvel, indecomponível, indestrutível»).
2 – É uma visão mais pragmática do que espiritual. Trata-se de trabalhar para encontrar uma propriedade física capaz de resistir aos constrangimentos do universo através da engenharia. Portanto, uma perspetiva longe de um assunto religioso, metafísico ou subjectivo.
3 – Razão pela qual considero que a decisão sobre a “morte” (do actual suporte-corpo molecular, proteico e anatómico) deve fazer parte do “caminho” escolhido por cada ser-humano para prosseguir o seu direito à sua Continuidade. Logo, essa decisão não deve estar sujeita a uma imposição moral, religiosa e ética única e igual para todos. Nem estar sujeita sequer à questão da saúde ou enfermidade.
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De SAP3i a 14.06.2022 às 00:29

1 – A questão da tentativa de alcançarmos a Continuidade através da engenharia não é um assunto distante e utópico. Basta, por exemplo, clicar no site da empresa “Bioquark-ReAnima-Encode” de Filadélfia, autorizada pelo sistema de saúde dos Estados Unidos. Actualmente existem várias outras a tentarem o mesmo, e centenas de cientistas a trabalharem para alcançarem esse objetivo.
2 – Apenas para dar um exemplo concreto, dessa capacidade física de resistir aos constrangimentos do universo, refiro apenas o caso do “tardígrado”.
2.1 – Em 20 de setembro de 2016, na prestigiada revista científica Nature Communications, temos o relato de um Ser Vivo que consegue dividir o seu ADN em pedaços, consegue secar 99% da água que o seu corpo contém em estado normal, e reduzir a atividade vital a um centésimo. E depois, no processo de reidratação, consegue reparar o próprio ADN sem sofrer qualquer lesão. Ora, esta capacidade do minúsculo “tardígrado” (também designado por urso-da-água) permite-lhe passear por dentro do gelo ou por água a ferver, e sobreviver a condições de pressão e radiação mortais para a Vida dos restantes seres vivos que se conhecem até ao momento no planeta Terra (Nature Communications, 2016/09/20). Enviados para o espaço extra-terrestre em 2007, para condições em que a respiração é impossível e a radiação incinerava instantaneamente um corpo-humano, adoptaram um estado criptobiótico durante vários anos. Isto é, desligaram todos os seus sistemas e processos biológicos, transformando-se num corpo mais físico do que químico, até encontrarem condições ambientais propícias à Vida dita biológica. Os que foram recuperados pela missão espacial da NASA e regressaram à Terra, voltaram àquilo que designamos por «Vida», e foram capazes de se reproduzir com sucesso produzindo ovos que eclodiram normalmente. Mas mais relevante ainda, é que a proteína que confere este poder de adaptação e resistência ao “tardígrado” pode ser transferida para as células de outros animais, inclusive os Humanos.
2.2 – A maioria dos “tardígrados” em estado normal mede menos de metade de um milímetro (0,5mm), portanto trata-se de uma redução para um corpo 100 vezes menor. Imagine-se um corpo humano com 1 metro e setenta de altura a transformar-se num com 17 milímetros…
3 – Ora, é deste tipo - realista e concreto - de reincarnação, ressuscitação, re-materialização e transmutação que estou a falar. Ou seja, trata-se de um processo de engenharia e de físico-química. Já não se trata de metafísica, almas ou espíritos.
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De SAP3i a 14.06.2022 às 11:14

1 – O “juramento de Hipócrates” não será, ao invés daquilo que é a interpretação comum, muito mais o compromisso com a «cura da mortalidade», do que com a «cura da doença e da enfermidade»? As duas coisas por vezes coincidem, mas não são a mesma coisa. Pois, se a «morte do corpo anatómico» for a condição para garantir a imortalidade, então, o compromisso com o “juramento de Hipócrates” não tem como fronteira e limite essa «morte anatómica», abrindo um espaço muito mais amplo de responsabilidade e dever ético e moral.
2 – A obrigação de «não matar» (a imputação do Mandamento, ”não matarás”) não será a de não interromper a possibilidade de imortalidade? E, assim sendo, cingir-se a «não deixar que o corpo anatómico morra» não poderá esta a cometer um homicídio, ao matar a possibilidade da Continuidade da vida de cada indivíduo?
3 – Não será um sacrilégio (e uma sobranceria) discutir “deus” (qualquer que seja a religião ou crença) dentro da fronteira daquilo que o ser humano é capaz de fazer à Natureza e ao universo? Esse “deus” não estará sempre para além daquilo que o ser humano é capaz de fazer e de pensar? Do que se trata, não será sempre termos de alargar a fronteira que julgávamos que estava perto do nosso antropocentrismo?
4 – Rémi Sussan, em 2016, escreveu um artigo intitulado “O pós-humano em sete palavras”, colocando as seguintes sete interrogações: “A biologia poderá modificar o ser vivo?”, “Poderemos aceder à imortalidade e vencer a morte?”; “As máquinas pensantes (outra forma de matéria) vão substituir os actuais seres humanos?”; “A nanotecnologia irá transformar a estrutura da matéria?”; “Qual será o contributo da “quantified self” de Kevin Kelly e Gary Wolf no futuro das nossas vidas?”; “Será possível um “trans-humanismo?”; “Qual o lugar do actual ser humano no universo?” (Sciences Humaines, vol. 281, numéro spécial “Nature/Culture: la fin des frontières?”, mai 2016, pp.56-59).
5 – E que dizer, por exemplo, de: “Official Alcor statement concerning Marvin Minsk”, 27 jan 2016”? Ou de: “A Cosmist Manifesto”, Bem Goertzel, 2010?
Etc., etc…

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