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Emitamos, sem medo, a nossa opinião. Como a imparcialidade é um mito, confessemos as nossas PARCIALIDADES.
No passado mês fiz uma peça para um orgão de comunicação social sobre atletismo. E a dado passo, o dirigente do clube com quem estava a falar, diz: " se não fossem os runners, isto era uma tristeza. Os runners, além de ajudarem financeiramente, são o espírito das corridas de estrada, sejam de fundo ou meio-fundo". E eu, que sou um runner, não lhe disse, mas senti uma ponta de orgulho. Nesta forma de estar na vida que entendo ser extremamente positiva para a saúde. E ainda apreciada pelos organizadores de provas em que participam alguns dos mais rápidos atletas do mundo!.
Mas o que é um runner, poderá perguntar o leitor e com razão. É um corredor, isso mesmo! O termo runner distingue dos profissionais e dos atletas de elite. Estes correm por dinheiro e para "cronos" que lhes permitam um lugar nos Jogos Olímpicos. Nós, recebemos a nossa medalinha, fazemos o melhor tempo possível - sempre em função das circunstâncias na semana de treino - e a festa. E há alguns que até conseguem meter-se na luta com os de elite. Bravos!
De facto, quando chegamos a uma maratona ou meia-maratona em que participam os craques quenianos, zairenses, nigerianos e portugueses de topo, as suas rotinas não se alteram. Vêm em autocarros da Federação Portuguesa de Atletismo ou do clube organizador, calados, concentrados, vão fazer o aquecimento ( às vezes, já o fizeram noutro lugar), dirigem-se ao pórtico principal e, ao som da pistola, pulsam no "on" do relógio e, quais gazelas, "voam" sobre o alcatrão. Não vêem a paisagem - tantas vezes magnífica - não olham para as pessoas. Só correm. E muito.
Nós, os runners, chegamos em grupos animados. Animamo.nos uns aos outros. Transformamos um evento desportivo, que até comporta atletas olímpicos medalhados, numa festa popular. Alterna-se o aquecimento com uma palavra a este, outra aquele ou aquela, umas garagalhadas, dança-se ao som da música que anima o arraial. Durante a corrida, enquanto há forças para tal, continuamos a falar uns com os outros, com o público que nos aplaude e dá força. Dizemos olá a quem está nas janelas a ver-nos passar. E, no fim, continuamos a festa. Em tudo o que a organização põe à disposição, colaboramos. Animação nunca falta.
Os olímpicos, entraram caldos e saem mudos. Vão ao pódium, os que vão, e seguem para o autocarro que os levará aos hotéis. Nós, os runners, a beber e a comer, ficamos a vê-los partir, acenamos para aqueles rostos esquálidos, cansados, vão trincando uma bolacha de água e sal, com o olhar perdido no horizonte, a pensar já no próximo compromisso.
Encostado às barreiras a saborear um bola de Berlim, observo a partida deles e digo para mim: quão subjectiva é a felicidade!...
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