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Banalização da amizade

por Jorge Santos, em 19.06.22

banalização.jpg

  Hoje, mais do que nunca, faz sentido usar a redundância "amigo verdadeiro". Se antes das redes sociais dominarem,  já vinham à tona as hipocrisias, agora são uma desgraça. Usa-se a abusa-se da palavra amigo, no facebook. As outras redes ficaram-se por "seguidores". E fizeram muito bem.

  Quando uma velha amiga tua, no café, em animada conversa sobre cinema, lança a bomba: " O George Clooney ? É meu amigo." Tu só podes ficar baralhado. Aconteceu-me a mim. " É teu amigo? O Clooney?". " É. No facebook!", diz ela.  "Ah!!", digo eu.

 Nesta vida, a outra desconheço, a improbabilidade daqueles dois serem amigos será de quase cem por cento. Mas o milagre da rede social permite o abuso de uma expressão sentimental, merecedora de respeito - amigo.

 Ter amigos é, a par da saúde, das melhores coisas que o ser humano necessita. De uma forma geral, perdemo-los ao longo da vida. Chegamos a uma fase em que os tais "verdadeiros", são bons, mas são poucos. Ao contrário, na rede social, basta carregar numa tecla e já está - novo amigo.

 Mas, como todas as medalhas, tem o reverso. No facebook, à medida que cresce o número de amigos virtuais, vamos perdendo alguns que, até aí, foram reais. E isto é dramático. Motivos tão banais podem conduzir a um corte de relações.

 Conheço casos em que amigos durante mais de 20 anos, conviveram, passearam, debateram sobre tudo, até porque eram de partidos e clubes diferentes, cessaram relações no facebook. Por causa dos comentários. Seguramente, se a conversa fosse presencial, tudo continuaria em paz, mas no facebook....Essa  máquina produtora de mal entendidos... Conclusão,  a amizade não era assim tão sólida; se fosse, não caía  tão facilmente. Ou terá o facebook uma influência psicológica  forte que não permite sanar conflitos?

  O novo paradigma das nossas vidas . Temos de aceitá-lo. Mas confesso, sem laivos de saudosismo mórbido, a minha preferência por um tempo em que o convívio era feito em cafés, na rua, no trabalho, na escola ou na universidade. Cada um fazia a  triagem. E quem era, era o que mostrava, o que dizia e o que sentia. Quando nascia amizade, era "verdadeira".

 Agora, a rede dá e a rede tira.  No balanço do deve e do haver, acho que chegamos a falência técnica.  Lamentável! Um amigo "verdadeiro" sustenta a nossa vida emocional. E banalizar este sentimento é um atentado à segurança do ser humano.

 

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publicado às 21:45


4 comentários

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De Anónimo a 20.06.2022 às 15:52

Pois, Gladys, os nossos amigos não nos agridem. Estão lá. Passem anos, haja distâncias, quando gritamos, aparecem. Quem, despudoradamente, através desta máquina infernal, procura provocar-nos, não é amigo coisa nenhuma. É compincha, companheiro de copos, o que se queira chamar. Amigo, não! Beijinho

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