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Emitamos, sem medo, a nossa opinião. Como a imparcialidade é um mito, confessemos as nossas PARCIALIDADES.
Os Caminhos de Santiago são, entre muitas coisas, prova de superação individual. Caminhar diariamente, sempre mais do que duas dezenas de quilómetros, durante uma semana, cansa, dói, amassa o corpo todo, principalmente os pés. E não sendo algo impossível, é difícil. A dificuldade e a dor são atenuados pela paisagem e pelo recolhimento interior; para outros, pela fé. É um exercício muito complexo de explicar. Tem de sentir-se.
No último que fiz, a minha companheira de Caminho passou por grandes dificuldades desde bastante cedo - demasiado cansaço, bolhas nos pés, unhas pisadas. E o desânimo que tudo isto provoca. Na etapa entre Caldas dos Reis e Pádron, com cerca de 25K, a penúltima desta iniciativa, fê-la pensar na desistência. Apesar de faltar só a ligação a Santiago de Compostela, com 24K, ficar a descansar em Padrón foi a primeira decisão. Mas alterou, pois o incentivo de todos, deu--lhe a força anímica necessária para iniciar. A custo, passada curta, dôr. Olhar pregado ao chão. Os bastões foram grande aliados nesta fase complicada.
Lentamente, à medida que íamos engolindo quilómetros, ela melhorava. As dores diminuiam. O cansaço metia férias. Aos 16K, já era ela quem puxava por mim. Calor, sol entre nuvens que fere a pele, subidas e descidas íngremes em asfalto. Cada quilómetro ultrapassado, uma pequena vitória. Quase hora de almoço. Convinha parar, abastecer e descansar um pouco. O local previsto para isso ficava, mais ou menos, ao 18K. Teríamos de percorrer mais dois, portanto.
Pois aos 16K, como a senti muito mais fresca do que eu, disse-lhe para seguir no seu ritmo e guardar mesa, pois eu não conseguiria ir mais ligeiro. Aqueles dias todos a caminhar faziam mossa. Ela concordou. Aumentou a firmeza da passada; eu fiquei para trás.
E foi ai que o milagre aconteceu! A sua firmeza no passo, passou a ritmo de corrida. Parei, abri instintivamente a boca de pasmo. A minha companheira de Caminho, que tão mal passou deste tão cedo, chegou a equacionar até a desistência, avançava a trote. Numa estrada que subia, calor, mochila às costas, bastões nas mãos. Assim foi, a correr!, até ao restaurante . Quando lá cheguei, encontrei-a já sentada, ar feliz, confiante. Motivação, bem-estar. "Não tenho dores e, se fosse preciso, fazia os restantes 8K a correr". - disse-me, quando, exausto, ocupei a cadeira em frente à sua, na mesa do restaurante.
A companheira de Caminho é praticante de atletismo ( corridas de fundo), mas estava literalmente "ko". Seria impensável correr naquelas condições, já tendo percorrido 16K. Mas correu. E chegou à "Obradoiro", em Santiago,sem dores. " Não me dói nada" - disse-me em frente à Catedral.
Quando vierem dizer-me que os milagres não existem, eu negarei. Este eu vi. Estava lá! Porque, caros amigos, só pode ter sido milagre. Para os céticos (como eu) é um choque. Mas ainda bem. Se há milagres, que aconteçam muitas e mais vezes. Precisamos muito, mas muito, deles. Ultreia et Suseia.
O jogador que nunca sorri: Iván Marcano, defesa-central do FC Porto. Nem quando marca um golo decisivo em cima do minuto 90! A fazer lembrar Buster Keaton, " o grande cara de pedra" ou o "homem que nunca sorria". Enquanto Marcano empolga a plateia com um golo decisivo, Keaton, o Da Grande Piada, do Vaudeville, faz-nos rir até às lágrimas, com os seus "gags" humorísticos. E ambos mantém o rosto fechado e olhar triste. Indiferentes à nossa felicidade.
O "central" dos Dragões foi sempre um "patinho feio" para a maioria dos sócios e adeptos. Principalmente quando regressou do Roma. "Que era um péssimo negócio", "havia melhor dentro do grupo", "flop", enfim, Marcano levou com tudo. Porém, sempre foi um profissional de grande nível. Rosto austero, flagelado pelos ventos agrestes do mar Cantábrico na sua Santander natal. Sem sorrir, sempre cumpriu; e apesar da pouca empatia que os adeptos nutriam por si, nunca virou a cara à luta e foi dos melhores em campo sempre que lhe deram a oportunidade para isso.
Tal como Keaton, Marcano é homem de paradoxos. As gargalhadas com Keaton e a magia do golo com o atleta portista. E ambos reagem como se tivessem feito a coisa mais vulgar do mundo. A simplicidade dos "anti-heróis", quando, afinal, acabam de oferecer aos assistentes o que mais desejam. Gargalhadas e golos. Sem transbordar dos seus rostos um ténue sorriso.
Eu sempre gostei de Marcano! Pertenço ao grupo das excepções. Não é qualquer jogador , face à sua posição no terreno, marca 5 golos em 16/17; 7, em 17/18; 6 em 19/20 e, na presente época já vai com dois tentos certeiros. E sempre marcou nos clubes onde teve oportunidade de ser titular. A força e vontade que demonstra, após gravíssima lesão que o parou uma época, põe a nu a fibra de que é feito. E já vai nos 35 anos, num futebol onde, cada vez mais, pontificam os "bebés".
É claro que gostava de o ver sorrir. Divertem-me mais os jogadores que revelam alegria a jogar, como Luis Díaz, Maradona, Futre, Chalana, Vitinha ou Oliver Torres, entre muitos. Mas não deixo de criar empatia com os "sérios", desde que demonstrem qualidade, profissionalismo e entrega total ao jogo. E Marcano é destes. Já lhe vai faltando alguma velocidade, mas na marcação é exímio: não passa nada. A continuar assim, Cardoso e Carmo têm de esperar mais tempo do que imaginavam e desejam.
Keaton e Marcano, dois "sérios", "tristes" até, mas que nos fazem sorrir e proporcionam felicidade inversamente proporcional aos seus rostos fechados. Quanto ao portista, parece que vai passar a "cisne", depois de tantos anos a representar o papel de "patinho feio". Caramba, portistas, o homem já merecia a simpatia de todos!
No início dos seus dias, a SPORT TV foi uma referência. Notava-se, sem dificuldade, uma força, atitude e linha editorial vencedora. Os seus jornalistas que acompanhavam os jogos de futebol eram contidos na verve e na histeria, como devem ser os relatadores de futebol na televisão.
Quem teve o privilégio de aprender ou o bom senso de saber que relatar futebol na TV e na rádio são formas diferentes de expressão, faz um trabalho decente e agradável para o tele-espectador. Entretanto, até hoje, muita água passou debaixo da ponte do canal. E tudo mudou. Só não mudaram os princípios que norteiam o relato televisivo e o radiofónico. Mas a Sport TV ignora isso por completo. E alguns dos seus relatadores usam e abusam do entusiasmo, do relato e do pormenor. E esquecem o mais importante: nós, telespectadores, estamos a ver. Não precisamos que nos digam o que estamos a ver. E o entusiamo no festejo de um golo ou um corte " na hora H", é por nós festejado, sem precisarmos da ajuda do relatador. Na rádio sim, têm de nos fazer "ver". E, felizmente, ainda há reatos radiofónicos. O vídeo (TV) ainda não matou a estrela da rádio! A meu ver, é imortal!
Neste fim de semana ( 13, 14 e 15 de Agosto de 2022), uma nova época arrancou, mas os vícios dos locutores/jornalistas/relatadores, continuam. No Casa Pia-Benfica, foi um exagero. Tive de baixar o volume para conseguir aguentar a "fúria" relatadora do Pedro Nascimento; relatou o jogo tal e qual se faz na rádio. Os tons, as inflexões, o detalhado movimento da bola, as subidas e descidas do entusiasmo e o clímax nos golos, gritados! Pura rádio! Erro televisivo.
Também não consigo entender num canal nacional, o motivo pelo qual o Rui Pedro Rocha está sempre em Alvalade. Muito mais contido que o Nascimento, usa um procedimento que eu gostaria de ver em todos os outros jogos. Calar-se enquanto é cantado o hino da equipa local ( no caso dele é sempre o Sporting); por vezes o jogo já decorre , o público vai terminando de cantar e, só a partir desse momento, volta a falar do jogo. Assim deveria ser em TODOS os campos. Se só acontece em Alvalade, mal vai a confraria. E não acerta o passo, pois já assim era na época anterior.
E os "catedráticos"? Bem, hoje só há um, o Freitas Lobo. Ele fala dos movimentos do jogador, se está no sitio certo ou devia estar mais ao meio, se o resultado pode virar, mas para isso o atleta x devia subir mais, etc, etc,etc. Gostava de ter visto o Freitas Lobo, nos seus tempos de juventude, a jogar futebol, não sei como não deu em génio. Agora, devia dedicar-se a treinador. E o futebol positivo iria encantar-nos a todos. Só que no sofá é mais fácil...
No fundo, não passa de uma cópia mal tirada do verdadeiro "catedrático" da bola de outros tempos: o grande Gabriel Alves ( para não falar de anteriores, que os houve). Esse sim, tinha estilo. Ele sabia tudo dos jogadores: idade, peso, por onde passaram, se preferem jogar com "o direito" ou com "o esquerdo", se rematam assim, se rematam assado. Mas tudo era dito com ponderação, sem levantar muito o tom de voz (claro, nós estávamos a ver!); Voz bem colocada, límpida, o que dizia, com tranquilidade, era agradável de ouvir. Outro esquecimento dos jornalistas desportivos de TV: a escrita é uma coisa, a locução é outra. Estilos e formas diferentes. Estudam comunicação social para quê?
Mas hoje, na SPORT TV, vale tudo. Bola para a frente e fé em Deus, ou como dizia o Herman José, "...tudo à molhada; que isto é futebol total".
Mas nós, os assinantes desse canal, porque pagamos, e não é pouco, merecíamos mais qualidade por parte do "staff" da casa. E não custava muito, bastava colocar as pessoas certas a fazerem o trabalho certo. Como quando criaram a inovadora Sport TV.
Gosto de ver as notícias ao fim da tarde na televisão. Habitualmente, chego a casa e sintonizo na RTP. Hoje, estava passar o separador, iam começar as notícias de desporto. Não podemos esquecer, em circunstância alguma, estarmos perante uma estação paga, fundamentalmente, pelo erário público. Exige-se um serviço que ponha sempre o interesse das pessoas no topo das prioridades, como convém em qualquer empresa do estado. Sem motivações financeiras ou outras. Apenas o lado noticioso da questão.
Tratando-se de um orgão de comunicação social, existem critérios específicos na ordem em que passam as notícias - os critérios editoriais. Como qualquer decisão deste teor, a subjectividade impera e varia em função de quem edita a informação.
E o editor de hoje, não sei quem é nem me interessa, optou abrir com o futebol. Apesar de estarem a decorrer os campeonatos mundiais de atletismo, os resultados de hoje não foram relevantes, por isso, aceita-se o início. Mas dentro do futebol há, apenas, duas notícias - um encontro de preparação do SL Benfica e o jogo do V. Guimarães para as pré-eliminatórias das competições europeias e que os minhotos venceram por 3-0 a uma equipa húngara. Qual seria o critério mais lógico para iniciar?
Eu iniciaria com o triunfo dos vimaranenses que, praticamente, ficaram no patamar seguinte das provas da Europa; e, além disso, tratava-se de um jogo oficial. Pois o o editor abriu com o SL Benfica e a sua vitória frente ao Girona, em jogo treino. A seguir, o atletismo e, no fim, o V. Guimarães. Parece que atirou a moeda ao ar para decidir. Mas não atirou....
A minha observação tem a ver com o facto de ser na RTP. Fosse um canal privado e nada surpreenderia. Aliás, em alguns desses canais, certos jornalistas fazem exactamente o contrário do que está determinado no seu código deontológico; portanto, não surpreendem os critérios.
Eu sei que o Benfica vende! Mas a RTP não devia ter isso como móbil na ordem em que escalona as notícias. As mais importantes eram os campeonatos mundiais de atletismo e o 13º lugar na marcha para a portuguesa Inês Henriques e o triunfo do Vitória numa competição europeia.
Porque é que o editor decidiu de outro modo? Não sei. Talvez tenha pensado nos "seis milhões de benfiquistas" ou no interesse comercial. Mas tem de perceber que, na RTP, desta vez, os milhares de vitorianos mereciam ficar à frente.
Parece um assunto de "lana caprina". Mas não é!
Define, claramente, a forma com o são tratadas as notícias no canal público em função da região geográfica de onde são os protagonistas.
Foi a primira vez? Não! Geralmente é assim. Infelizmente. Mas na RTP não deveria ser. Nunca!
Créditos da foto: Jesús Faílde, em "acontravento", Galiza
O mundo rural foi sempre incompreendido, até desdenhado, pelo seu irmão citadino. Lembro-me de haver uma pungente ignorância que levava à incompreensão dos jovens que provinham das aldeias rurais para os liceus, na cidade. Senti isto, já lá vão, seguramente, 48 anos. E a tendência, se vivêssemos em condições normais e num país equilibrado, seria aproximar as duas realidades. E não faria mal nenhum aos citadinos, irem até às aldeias saber donde provêm o milho (para fazer pipocas), o vinho, o leite, as batatas ( fritas são tão boas!), como se cuidam dos animais, dos campos, das florestas. Já que os rurais, por terem de ir estudar para as cidades, o confronto com a nova realidade para eles era inevitável.
Correu tudo mal. Como uma menina da cidade a dizer, ou perguntar, se o leite achocolatado vinha das vacas castanhas e outras preciosidade do género. A cidade não foi ao campo ( nos últimos anos, por necessidade, foram sendo construídas as hortas urbanas, do mal o menos). E, após os anos 80, o campo desertificou-se. Os mais velhor foram partindo e os mais novos jamais quiseram dedicar-se à dura vida agrícola, preferindo a produção fabril, nas cinturas das grandes cidades. Até porque, com os fundos que vieram da Comunidade Europeia - supostamente para reabilitar - muita gente orientou a vida, desviando-os, e afastou-se do campo.
Conclusão. As aldeias ficaram desertas, os campos abandonados. Campos, muitos deles com um historial produtivo excelente, enxamearam-se de eucaliptos e silvas. Os caminhos, tão usados pelos agricultores, ficaram intransitáveis.
Hoje, admiram-se os citadinos de haver incêncios tão agressivos nesses locais. Os terrenos não estão limpos? Pois , não! Só dão prejuízo, já são heranças de heranças e os proprietários nem sabem onde ficam. Seria bom pensar em utilizar meios públicos para fazer esse trabalho (pagam IMI à autarquia) e não dão rendimento ao proprietário. Depois, criar um entendimente entre o público e o privado para solucionar .
Custa-me ouvir o senhor Primeiro Ministro afirmar, vezes sem conta, que aculpa é das pessoas - não podem fazer churrascos, limpar terrenos nos momentos de contigência, levar a cabo quaiquer tipos de ignições, etc. Irrita-me esta mania citadina de ver a questão. Não são os do mundo rural quem destrói as suas fontes de rendimento. São pessoas, sim, mas criminosas que promovem todos estes incêndios. E nisto também o governo tem de mexer. Quer na parte penal quer na social, para que não apareçam forças a querer destruir o Estado de Direito.Já faltou mais...
Senhor Primeiro Ministro, em vez de acabar com a Guarda Florestal, deveria pensar em ter menos ministros, secretários e assessores e reabilitar essa guarda, até lhe pode mudar o nome, para não correr o risco de dizerem que anda para trás. Mas faz muita falta.
E deixe de culpar as gente do mundo rural! Tomaria o senhor ter a mesma competência na sua função como eles têm na defesa da ruralidade. Os animais estão incluídos, obviamente.
E a Regionalização? Demora muito? É a única forma, a meu ver, de equilibar Portugal. Tão inclinado está para o litoral, qualquer dia cai ao oceano.
Acreditar, diz ele. Em quê? Num Portugal com menos desemprego, melhores salários, pensões, em que os mais débeis tenham as mesmas oportunidades? Com menos ministros, secretários, assessores, fim das reformas vitalícias de políticos? Com uma luta séria, e a sério, para baixar a corrupção? Regularizar e melhorar o funcionamento do SNS, dar mais velocidade aos processos que se arrastam pelos tribunais? Acabar com as taxas e impostos que não são isso, mas sim caça níqueis furtivos?
Ou a palavra, forte sem dúvida, é mais um isco eleitoral? Para tudo ficar na mesma, como tem acontecido ao londo dos anos. Todos os partidos tem-nos dito para acreditarmos. Ao longo de décadas. E ao que chegámos?
Um democrata vai sempre votar, mesmo que não tenha quaqluer empatia com as forças partidárias. As caras, em grandes dimensões aparecem a pedir para acreditarmos. Mas o que devia estar nestas dimensões eram os projectos para um mandato de quatro anos. Isso sim, podia fazer.nos acreditar. E exigir! Projectos, Dr. Montenegro! Porque caras há muitas....
Mais uma palavra ao vento. Quem não conhece o presidente do PSD, como eu, sabe lá se deve ou não acreditar o homem. Nos projectos do partido, isso sim; nesses, poderíamos acreditar.
Desta forma, é mais uma palavra ao vento. Olhamos e ficamos a saber o mesmo. Acreditamos em quê, Dr. Luis Montenegro?
Neste dia negro para Portugal, mais um, por causa dos incêndios, vêm à liça diária, muitas discussões tidas ao longo do ano - casas em ruínas e IMI; limpeza de terrenos; regionalização; capacidade dos meios portugueses face às tragédias.
As pessoas são responsáveis pelos seus actos, é óbvio; e devem ser penalizadas quando os actos pôem em risco a vida e bens de outros. Mas estou convicto de que a maioria da população, principalmente a do interior e que vive em meio rural, zela da natureza como ninguém. Dentro das suas possibilidades e que não são muito grandes.
Há uma tendência quase mórbida, por parte das autoridades, em culpar as pessoas por tudo o que de mau acontece. Os incêndios, as cheias, as casas que caem, os terrenos por limpar, são alguns deles. E terão a sua cota-parte, com certeza.
Lamentavelmente, dentro dos gabinetes, com ar condicionado, das câmaras municipais e outros lugares governamentais, onde são decididas as vidas sociais e económicas das pessoas, há tanta incompetência e insensibilidade.
Grande parte dos terrenos por limpar ou são de heranças que não interessam aos herdeiros ou de pessoas que não têm meios financeiros para mandar limpá-los;por norma, vivem nas cidades e percebem nada de ruralidade na prática. O custo da limpeza é muito elevada. E não pode ser feita uma só vez no ano, o mato volta a crescer e rápidamente. E nova limpeza é necessária. Falo de terrenos que pagam IMI e não dão qualquer rendimento ao proprietário. Que não tem meios financeiros para proceder à limpeza. E há muita gente nesta situação! Há até quem queira vender para se livrar destas aflições, mas ninguém quer comprar, pois não obtém rendimento. Apenas despesa.
As casas em ruínas são outro maná para certos municipios. Muitas vezes provêm de heranças que deveriam ser recusadas. Mas quantas pessoas em Portugal sabem que podem declinar a herança e os procedimentos para tal? Numa freguesia do centro do país, a aldeia tem variadíssimas casa à venda ( ninguém quer ir viver ali). Sem ser usadas, vão-se deteriorando e a ruína não tarda. A câmara municipal escreve uma carta aos proprietários informando-os de que deve reabilitá-la ou demoli-la, caso contrário, pagará o IMI em triplo. Ora, se percebermos como se procede na demolição- é caríssima - para pagar à câmara e a privados, depois, a vedação, como vão fazer aqueles que não têm meios económicos? Não nos esqueçamos que em Portugal os salários são muito baixos e há imenso desemprego. A juntar à tragédia social que acontece após ser destruído o sector da agricultura e pescas.
Nos gabinetes de decisão, locais, regionais e nacionais, tem de haver gente com sensibilidade para o que propõe e obriga. Provavelmente, com apoio - não é só a empresa do Mário Ferreira que precisa de apoios do Estado! - os terrenos estavam limpos e as casas em ruínas, devidamente qualificadas, para a aldeia ficar mais bonita.
Mas, citando uma senhora de Leiria, em pleno incêndio, "Portugal é uma caca!"
Vou ser mais preciso. Portugal tornou-se numa caca porque, a partir dos anos 80, só teve ministros de caca! E o resultado está à vista de todos.
A mim, social-democrata sem partido, satura-me a conversa de que vivemos num regime socialista. Será pelo nome do partido do governo? Só pode. A partir do momento em que Mário Soares colocou o marxismo ( por consequência, o socialismo) na gaveta, adeus ideologia! Depois, alguém poderia pegar na chave, reabrir a gavela e retirá-lo de lá. Mas não! A chave foi atirada ao mar em lugar incerto.
Um partido, cujo nome é socialista, deve corar de vergonha por pôr em prática políticas económicas liberais. O nome e a suposta ideologia, implicavam uma aposta social diferente. Gente que gosta de assumir-se progressista, de esquerda, socialista, fica muito mal na foto com a forma como organiza e gere o país. E a ambiguidade entre o público e o privado. Se realmente fossem socialistas, essa ambiguidade não existiria.
O liberalismo económico de Cavaco Silva e Ferreira Leite mantém-se. Mudaram os nomes dos governantes, mas a política manteve-se com os vindouros. Nem os da "esquerda", Sócrates e Costa, mudaram o rumo. Antes pelo contrário. Continuaram-no a todo o vapor.
As medidas tomadas diariamente, favorecem os privados, prejudicando o que é ( foi/deveria ser) público. A classe média continua num poço sem fundo, agarrada às paredes. Multinacionais - pagam o salário mínimo aos trabalhadores - são proprietárias das principais empresas lucrativas, bancos, seguros, hospitais, Tap ( para mal dos nossos pecados ninguém consegue pôr um ponto final na crise!), distribuidores de electricidade, correios. Enfim, quase tudo. Tudo o que exige aos portugueses pagarem, pagarem, pagarem. Além dos impostos, claro!
Com esta sobrecarga de pagmentos, taxas e outros "caça níqueis", como pode sobreviver-ser em Portugal? Política partidária (com todo o seu polvo), algumas profissões públicas e privadas, mas que estão saturadas, alguns profissionais liberais. E a corrupção aparece; é a consequência lógica de regimes ultra-liberais ou liberais.
Se o país está entregue aos privados, por que raio sobem os nossos impostos? Mais um logro do liberalismo. Cujas explicações são tão tôpegas que ninguém entende.
E as pequenas e médias empresas? Apertadas pelo pescoço até esganarem!
O socialismo democrático (no século XXI, na Europa, não concebo outro) implica, além do apoio aos mais desfavorecidos, impostos colectados e aplicados com equidade, controlo da gestão das principais empresas, justiça severa aos que burlam o erário público, e tendência para a nacionalização e não para a privatização. E, claro, mudança nas elites do poder. Todas. Só a social-democracia pôe, depois, ordem nisto ( vejam como é na Finlândia, por exemplo)
O que temos em Portugal e nos irrita a quase todos é o liberalismo económico. Que pode travestir-se com as mais diversas fatiotas. Agora é o fato à "socialista", antes, foi a capa da "social-democracia". E nesta alternância, quase passagem de modelos, vamos sendo enganados e encostados às cordas da sobrevivência.
Hoje nasceu um partido novo! Parece...
Novos cidadãos, gente que nunca andou nos negócios ( literalmente!) da política, juntaram-se para salvar Portugal. Parece...
A politica espectáculo que a América criou, espalhou-se pelo mundo. Se é bom ou mau, não sei dizer. Só sei que não gosto. O que sabemos todos é que Portugal continua no fosso, à medida que foram passando partidos pelo poder. E, de quatro em quatro anos, a pátria lusa enche-se de promessas. E os portugueses de esperança. Depois...catrapuz, a desilusão.
Quem acompanhou o congresso do PSD apercebeu-se, com certeza, da injecção de optimismo. Luís Montenegro, a modos que montado num cavalo branco, com uma bandeira às costas, gritava: agora chegam os bons, os que vão dar cabo dos incompetentes e mudar a vida, para melhor, aos portugueses.
Pois, Luís Montenegro, isso era muito bom. Mas parece que as figuras escolhidas pelo líder nunca estiveram no Parlamento, nunca foram membros do governo, nunca foram ministros. São todos "virgens" nesta coisa!
E que dificuldade têm todos em dizer que são social-democratas! Lá vão assumindo, mas a medo. Compreensivelmente, porque na realidade não o são. Lá no fundo, bem no fundo, talvez entendam que é a melhor solução; mas os seus negócios, os dos seus amigos e as empresas multinacionais exigem-lhe o ultraliberalismo. Um dos novos elementos da direcção do partido até afirmou que o PSD é o partido das pessoas. Agora, sim! Vamos ter um partido que pensa nos cidadãos.
Mas então, nas várias vezes que passaram pelo governo, até com maiorias absolutas, por que não transformaram Portugal num país próspero, com políticas parecidas às da social democracia nórdica? Por que insistiram mas medidas que massacraram sempre os mais necessitados? E os fundos que vieram "da Europa" e que foram parar aos bolsos deste e daquele? E o pagamento especial por conta, que tanto prejudicou pequenos empresários? E o famigerado gasóleo agricola? A cultura do girassol? E alguns destes "novos" políticos, já por lá andavam a lançar palpites.
O meu comentário não tem a ver com o partido em si. Se fosse o PS ou o CDS ou outro qualquer que já tivesse sido governo, dizia o mesmo. Sou social-democrata sem partido, portanto estou à vontade para tecer as mignhas críticas.
Para concluir, entremos na "reciclagem partidária". Pode ser que a ideologia, finalmente, coincida com o nome dos partidos. E aquelas mulheres e homens, deixem de lado as reformas vitalícias que lhes foram atribuída aos 40 anos. E tenham percebido que o amiguismo criou uma teia de corrupção que nos aperta até ao pescoço. E ninguém a quis, até hoje, desapertar.
Para quem acredita no discurso partidário, foi, seguramente, um dia feliz.
Os que têm memória, como eu...parece mais do mesmo. Aguardo pela propostas alternativas às do governo.
Felizes os que acham , agora sim, chegou a competência. E os bons. Os que nunca se enganam e raramente têm dúvidas.
Um dos temas mais discutido nos últimos tempos tem a ver com médicos e hospitais. O que vai sendo noticiado só nos pode deixar intranquilos. Muito! Seja a ministra, o Sindicato, a Ordem, nada apazigua a preocupação. Porque com a saúde não se brinca! E, se calhar por isso, há exageros inconcebíveis. Gestores hospitalares, chefes de serviço, apresentam queixas sobre queixas. E os hospitais emperram, fecham unidades, dificultam a vida dos cidadãos face a um direito constitucionalmente garantido. Os centros de saúde afinam pelo mesmo diapasão. Mas o que é garantido pelos responsáveis, unanimemente, ainda confunde mais: não faltam médicos em Portugal!
Então, se não faltam médicos, por que razão não os há em muitos hospitais e centros de saúde? Provavelmente, não gostam do SNS. E com a proliferação diária de hospitais privados ( ainda bem, mostra ao mundo que somos um país rico!) devem estar lá todos.
Vejam só a nossa sorte por não haver polícia privada, tribunais privados, repartições de finanças privadas. E muito gratos devemos estar aos professores. Optam pelo calvário dos concursos em vez de colégios privados.
Analisemos a base do problema. Desde sempre, a classe médica teve ascendente sobre os governos. São os técnicos superiores mais beneficiados do país . Compare-se um jovem médico com qualquer outro profissional recém saído da faculdade. E esse ascendente não permitiu, nunca, uma política dos governos que alterasse a sua colocação e o tempo que qualquer médico deveria "dar" aos portugueses. Um curso que, até agora, só existe em faculdades públicas mereciam outro reconhecimento por parte dos profissionais. Mas também nos faltam governos corajosos, que promovam reformas eficazes no sector. E só uma profunda modificação na relação estado/médicos pode alterar a situação. Os médicos, como os juízes, os polícias, os professores e outros funcionários públicos deveriam cumprir um período razoável ao serviço do SNS. No país inteiro, sem assimetrias.
Ao defender uma reforma , não esqueço a questão salarial. Antes pelo contrário. O investimento público, em vez de ser oferecido a privados, banqueiros, reformas vitalícias a politicos ou em empresas falidas, só para citar alguns dos gastos estapafúrdios, devia ser canalizado para as infraestruturas essenciais às pessoas. No caso concreto, hospitais e centros de saúde. E salários compatíveis a médicos, enfermeiros e pessoal auxiliar.
Até quando este "faz de conta" político? O país necessita de profundas reformas. E de governantes corajosos. Que pensem nas pessoas, em vez das eleições seguintes. Com orçamentos de estado adequados às necessidades concretas do país.
A Constituição tem de deixar de ser um mero papel jurídico!
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